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Assistindo a cerimônia de lançamento das bases para a exploração das reservas petrolíferas contidas na famosa Camada de Pré-Sal, do mar territorial brasileiro, me vi transportado para o mundo fabuloso do dinheiro fácil e das maravilhas intermináveis.
Teremos dinheiro para a saúde, para a educação, para pesquisas tecnológicas e para agradar a gregos e troianos nos estados da federação. O Brasil se erguerá no cenário econômico mundial como o novo Oriente Médio e a nova Meca do investimento. Os petrodólares jorrarão e saltarão de nossas gavetas garantindo hospitais onde uma criança não morra de infecção; um atropelado não tenha que amputar a perna porque ficou vinte dias aguardando uma cirurgia simples, que lhe salvaria o membro ou que velhos não morram por falta de alimentação adequada ou de dinheiro para comprar remédios.
Multidões acorrerão às nossas portas, com pires nas mãos, se humilhando e se rebaixando para disputarem uma migalha (ou uma gota) de nossa excelsa benevolência tropical em forma de óleo negro e viscoso, que brota do mais profundo recôndito das entranhas de nossa Mãe Pátria.
Isso, claro, é o que querem que você acredite. Claramente de olho no capital eleitoral encerrado nessa discussão, Lula e sua equipe mostram um mundo de sonhos e fantasias que pode mesmo se tornar real. Mas, estranhamente se esquecem de mencionar pequenos detalhes como o fato de que toda essa bonança de leite e mel, da promessa representada pelo pré-sal, depende de inúmeros fatores ainda a serem equacionados e de acontecimentos que devem se realizar e se concatenarem para tornar a exploração desse petróleo economicamente viável.
Esqueceram também de afirmar que a exploração do pré-sal envolve um custo absurdamente alto e que o país e a Petrobrás não têm condições de “segurar a onda” sozinhos. Portanto, sem interesse e sem participação de empresas internacionais, todo esse tesouro permanecerá onde está.
A realidade que não querem mostrar, com o único intuito de iludir e de tirar proveito eleitoral do fato, é a simples constatação de que ainda falta muito para termos a certeza de “botar a mão nesse dinheiro”.
É importante entender que mesmo o petróleo sendo uma fonte de energia em extinção lá fora; países mais adiantados tecnologicamente já apresentam soluções eficientes para substituí-lo. O aprimoramento das células de energia (a base de hidrogênio) poderá, numa tacada só, eliminar a necessidade de grande parte da demanda mundial pelo petróleo nos próximos anos. Afinal de contas, nunca se investiu tanto em energias alternativas e em células de energia como agora. Ainda resta torcer para que essas células de energia tenham seu uso em larga escala economicamente inviáveis nos próximos dez ou vinte anos. Mas quem pode apostar nisso?
A lição do biodiesel, apresentado no primeiro mandato de Lula como a redenção do Brasil e a grande fonte de divisas do futuro, mostrou como a realidade pode ser cruel. O resultado do “novo El Dorado” tupiniquim acabou num fiasco de proporções gigantescas que raramente é mencionado pelo governo; tendo este praticamente abandonado e condenando ao inferno das dívidas diversos produtores que acreditaram nas promessas, de leite e mel, que Lula disse que jorrariam dos campos de mamona.
O grande problema de se engessar a Petrobrás e de acabar demorando muito para fazer os investimentos necessários é que corremos o risco de toda essa riqueza ter sido descoberta tarde demais. Isso significará simplesmente que todos esses sonhos vendidos por Lula, seus ministros e seus assessores podem simplesmente se tornarem inviáveis e lembranças amargas nas mentes de nosso combalido povo.
O maior temor é que Lula comece a “gastar por conta” como, aliás, já vem fazendo faz um bom tempo, elevando a dívida pública e os gastos com o custeio da máquina a níveis (como ele adora dizer) nunca antes vistos nesse país.
Será extremamente proveitoso, para todos nós, se a euforia e a ganância eleitoral sejam deixadas de lado e este fantástico presente da natureza seja tratado apenas pelos que dele entendem; sem que estes tenham que se sujeitarem as ingerências de um partido comprometido, até os ossos, com o que há de mais fisiológico e mais atrasado em matéria de política nacional.
A própria criação de mais uma estatal para cuidar da mesma coisa que a Petrobrás vem cuidando, com grande sucesso ao longo de décadas, já é um indício de que querem transformar essa riqueza num enorme cabide de empregos e numa festa para agradar aos seus aliados sedentos de poder e de dinheiro fácil.
Pense nisso.
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