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Mais uma vez, o Visão Panorâmica traz para seus leitores um artigo publicado no site do Clube Militar. Escrito pelo General de Divisão Clovis Purper Bandeira, o artigo na seção de opinião do site tece duras críticas e revela um pouco do que vai na mente da cúpula das forças armadas brasileiras ou, pelo menos, de uma parte delas.
Usando uma metáfora óbvia, o general tece um panorama do momento político atual em que vivemos e deixa o ar uma clara mensagem de que as coisas não andam lá muito tranquilas em nossa democracia. Enquanto isso, os responsáveis por nosso governo se lançam numa aventura irresponsável em Honduras que tem os dedos de Chávez claramente estampados em cada momento que se desenrola.
Leiam e tirem suas próprias conclusões.
A. Maximus
FINÓRIOS
Gen Div Clovis Purper Bandeira
O velho Agapito, carpinteiro habilidoso, sofria de solidão. Para minorá-la, construiu dois bonecos de madeira, que chamou de Finório e de Finória, para serem seus companheiros. Por interferência da Fada Boa, os bonecos ganharam vida, mas, para se tornarem completamente humanos, precisavam não mentir e distinguir o certo do errado, ou seja, mostrar caráter e discernimento. Caso fracassassem nesse intento, voltariam a ser bonecos de madeira.
Por esse motivo, Agapito dedicou seus últimos anos de vida a ensinar valores aos dois bonecos, a cada dia mais humanos.
Com a morte do velho artesão, no entanto, esqueceram os ensinamentos e, confiantes no perdão da Fada Boa, passaram a exibir suas fraquezas, cada vez mais evidentes.
Finório virou líder sindical e, após muito tempo sem trabalhar, político profissional, chegando à Presidência da República.
Especializou-se em mentir, o que lhe rendeu frutos de sucesso e convenceu-o de que estava acima do bem e do mal. Assim, nega o conhecimento de tudo que possa prejudicá-lo, acoberta e perdoa os crimes e roubos dos comparsas, compra apoio político com verbas públicas e cargos na máquina estatal, aparelha as autarquias e agências governamentais com cúmplices de seu bando e mente, e mente, e mente…
Mente quando destrata os críticos que atacam os programas sociais que criou, apesar de tê-los condenado enfaticamente quando militava na oposição raivosa; mente quando se apropria de ideias e de projetos de governos anteriores, apresentando-os como seus; mente quando se mostra como figura messiânica, dizendo, em seus improvisos inconsequentes, que “nunca antes na história desse país” alguém fez tanto pelo povo; mente quando, empolgado pela própria propaganda, afirma que a descoberta de campos petrolíferos marítimos a grandes profundidades, conhecidos há mais de vinte anos, são obra sua, só faltando dizer que os encontrou mergulhando pessoalmente naquelas águas; mente quando insinua que esses recursos estarão disponíveis logo, colhendo dividendos políticos dessa mentira e escondendo que os primeiros resultados sólidos da exploração dos mesmos só serão visíveis no final da próxima década, se tudo correr bem e os enormes desafios financeiros e tecnológicos forem vencidos sem grande atraso; mente quando defende políticos demagogos, nepotistas e desonestos, adversários da véspera, chegando a afirmar que, como ele, não são pessoas comuns, logo, estão acima da aplicação da lei destinada aos demais mortais; mente ao prometer a cada audiência exatamente o que ela quer ouvir, sem nenhuma ideia de cumprir a promessa; mente ao exagerar o número de indigentes do país, para alardear progressos sociais inexistentes, supostamente decorrentes de sua ação; mente quando declama amor à democracia, quando seu modelo democrático é Cuba e, ultimamente, o Irã e seu sonho é governar sem oposição e com a imprensa calada ou subserviente; mente quando apelida de “movimentos sociais” os bandos de criminosos que assolam o campo e as estradas do país, e os financia e incensa, desde que não ataquem seu governo e sejam dócil massa de manobra a seu comando; mente quando…
E quanto a Finória? Vai no mesmo rumo.
Após um início pouco lembrado como terrorista e guerrilheira, também ingressou na política, chegando a Chefe da Casa Civil do governo de Finório, cujos passos segue e a quem pretende substituir no comando do país. Por enquanto, ainda se comporta como marionete do mandatário parlapatão (para empregar um termo em moda), mas não há dúvida de que tem autonomia para vôos solo, que serão cada vez mais audaciosos, respeitando, é claro, o estilo e as mentiras do antecessor, cuja popularidade incrível pretende herdar. Apesar de sua conhecida grosseria, tem a mesma visão complacente para com os erros dos companheiros de viagem, enquanto lhe forem úteis, afagando-lhes os egos quando lhe convém, e afastando os que não se submetem aos seus desígnios. Para tal, também mente e mente…
Mente quando insere dados falsos em sua biografia oficial, trombeteando títulos acadêmicos que nunca possuiu; mente quando nega reunião com funcionária que tentava pressionar para concluir com rapidez as investigações sobre crimes fiscais come-tidos por filho de antigo inimigo político de Finório, que este ofendeu o quanto pode, agora convertido em amigo de infância e grande democrata; mente quando inaugura obras não concluídas, dentro de um programa mal explicado e mal conduzido, propositalmente sem metas claras para que não possam ser cobradas; mente quando infla os números das realizações ilusórias que se atribui, como o mirabolante projeto de construção de um milhão de imóveis residenciais e, quando confrontada com informações diferentes, desconversa, desvia o olhar ou agride o interlocutor para colocá-lo na defensiva e mudar o rumo do debate; mente até na sua aparência física, recorrendo a cirurgia plástica para apresentar aos futuros eleitores uma fisionomia rejuvenescida, menos sisuda e mais simpática, além de uma silhueta mais esguia e elegante; mente quando…
Não se pense, contudo, que os dois são execrados por isso. No circo onde trabalham, compraram o aplauso de uma claque composta pela facção mais desinformada da platéia, que pagam com sacos de pipoca e ingressos gratuitos. Contam, também, com o apoio de alguns vizinhos: o dono do posto de combustível da esquina (figura histriônica sempre de boina vermelha, falando sem parar), o índio traficante de coca da área e o montanhês simplório que faz malabarismo na rua.
Há quem espere que a Fada Boa, cansada da indiferença de Finório e de Finória quanto à prática dos valores da verdade, do discernimento e da ética, devolva-os à situação de bonecos de madeira, da qual conservam até hoje a cara de pau que ostentam. Os pessimistas, no entanto, insinuam que a Fada Boa, cooptada, encontra-se encastelada num dos incontáveis órgãos com “status” de ministério, a Secretaria de Sonhos e de Boas Intenções, da cota do PT.
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