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Para o brasileiro médio é difícil entender como uma pessoa como José Sarney consegue se manter a frente de um organismo tão importante da República como o Senado Federal. Mas, é importante saber que para entender isso você precisa compreender como pensa a grande maioria dos políticos brasileiros.
Citações e exemplos de ações que mostram todo o desprezo que eles sentem pelo país e pelo povo que, teoricamente, juraram servir e proteger não faltam. É um que declara “se lixar” para a opinião pública porque eles fazem o que querem e, mesmo assim, são eleitos e reeleitos quantas vezes quiserem; é outro que paga a pensão da amante com dinheiro público e se acha no direito de questionar quem o acusa alegando que “todos fazem”; é outro que se envolve com prostitutas infantis e organiza orgias com a participação de autoridades e personalidades da sua região e acha que deve ser coberto pelos privilégios do cargo e outros que usam escravos em suas fazendas e respondem pelos mais diversos crimes.
Já falamos que a raiz desse mal está na alienação e na falta de preparo do eleitor e na conivência de nossa sociedade com o transgressor. Um exemplo clássico é da jornalista que tinha a pensão paga com dinheiro ilícito e, ao invés de ser presa e ter os bens tomados, ganhou um programa de televisão. Outro é o do político condenado por vários crimes e constantemente envolvido em denúncias e em processos de Lavagem de dinheiro e desvio de verbas que apregoa como tema de campanha o “rouba mais faz” e é repetidamente reeleito com expressivas votações. Tudo isso contribui para que o Brasil seja o lugar perverso que é. Tudo isso contribui para que pessoas morram a míngua pelas ruas, em hospitais sucateados e abandonados e que não tenham direito sequer a uma simples consulta médica dentro de um prazo razoável de tempo.
No país das leis “que colam “ou que “não colam”, os políticos se acham donos de uma aura de permissividade e de excelência acima de qualquer crítica. Afinal de contas, tal fato foi em demonstrado abertamente pelo próprio presidente da república ao dizer que Sarney “estava acima das pessoas comuns”. Declaração que, em outro lugar, lhe renderia uma grave censura pública ou mesmo a perda do mandato por atentar contra a própria constituição do país. Nem é preciso dizer que presidentes muito mais poderosos perderam seus mandatos apenas porque mentiram sob juramento ou usaram a máquina do Estado em proveito próprio. A simples descoberta de uma amante ou de uma relação criminosa com prostitutas pode custar à carreira política de “excelências” em qualquer país civilizado. Muito além da hipocrisia religiosa e de toda essa besteira moralista; isso acontece porque há a quebra de confiança na figura do presidente ou do político e uma população vigilante e que cobra uma certa postura de seus representantes assim o exige. Foi assim no caso dos escândalos do Parlamento Inglês, no Japão, nos EUA e em vários outros lugares do mundo.
Mas aqui, mesmo diante de barbaridades grosseiras, de crimes evidentes escandalosamente expostos e de uma fartura de provas que daria inveja a qualquer roteirista do CSI; nada acontece. Aqui, chega-se ao cúmulo de questionar a imprensa internacional quando ela se manifesta e descreve nosso senado como uma “casa de horrores”. Indignação, revolta e discursos enfurecidos são proferidos por pessoas acusadas (e até condenadas) por crimes diversos e expostas a todo instante ao ridículo de serem pegas com as calças na mão e de negar o “inegável” com as desculpas mais inverossímeis e absurdas. Tudo isso sob o beneplácito da grande imprensa local que vive das esmolas que pingam das verbas públicas e que trata canalhas conhecidos como “vossas excelências”. Afinal de contas, mesmo diplomados, o patrão limita a ética do redator ou do repórter sob o argumento da necessidade das gordas verbas públicas.
As recentes denúncias de desvio de verbas públicas na Fundação Sarney são bem um exemplo desse comportamento passivo da imprensa nacional. Como aceitar que o criador de uma fundação que leva o seu nome não detenha nenhum tipo de controle sobre ela ou sobre quem a administra? Como aceitar que as provas de desvio de verbas das mais diversas e de que notas fiscais de empresas varejistas tenham sido usadas para comprovar verbas destinadas à formação e a educação de assistidos pela tal fundação com “aulas de história da arte”. O mais grave é ver como os repórteres se calam diante das explicações mais absurdas e claramente fantasiosas sem sequer questionar esse absurdo. A coisa chega ao cúmulo de um membro da “casta” diplomada ser agredido a sopapos ao vivo e a cores e uma desculpa deslavada de que “ele caiu sozinho”; diante de uma imagem clara e comprobatória de que o sujeito foi agredido sequer foi questionada por nenhum repórter de nenhuma emissora (nem mesmo da empresa do próprio agredido).
Enquanto o povo permanecer alienado, a imprensa continuar vendida e preocupada com diplomas e a nação disposta a tolerar esse tipo de coisa; continuaremos a ser motivo de chacota internacionalmente e conhecidos como uma nação de corruptos, preguiçosos e que servem apenas para o samba e o futebol.
O Brasil é muito mais do que isso. O Brasil é maior que um presidente tragicômico e iludido por índices de popularidade. O Brasil é maior do que os corruptos e do que os corruptores. O Brasil é maior do que qualquer empresário vendido ou sindicato viciado. O Brasil precisa mudar.
Mas antes; precisamos mudar a nós mesmos.
Pense nisso.
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