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O Dia da Democracia se aproxima. A data, que será comemorada no próximo dia 25 de outubro, tem um sabor especial para nós. Afinal, emergimos de um regime ditatorial onde o povo tinha muito pouco ou nada a falar.
Mas, podemos afirmar que vivemos numa democracia hoje? Podemos assegurar que experimentamos tudo o que esse sistema de governo tem a oferecer?
É justamente aí, nestas perguntas, que reside a chave do entendimento da questão e a importância que ela tem. Pois, para muitos, bastam haver eleições livres para se viver numa democracia. Para outros tantos, basta que o representante eleito governe pela felicidade e com a aprovação de seu povo e que cumpra o mandato até o fim, sem qualquer interpelação ou questionamento.
E aqui está a raiz da confusão. É possível ter uma democracia sem eleições? Claro. Há um histórico, ao longo dos séculos, de governos representados por monarquias que eram democráticos. Da mesma forma, estamos repletos de exemplos, do passado e atuais, de “democracias” com eleições livres, diretas, com as liberdades e conquistas bradadas aos quatro cantos e, no entanto, quase sempre se tratam de ditaduras extremamente autoritárias travestidas de democracias.
Se o simples fato de ter sido eleito por votação popular credenciasse alguém para receber a alcunha de democrata (ou a simples realização de eleições exprimisse um governo democrático); chamaríamos Adolf Hitler, Saddam Hussein, Salazar, Nicolae Ceausescu, Benito Mussolini, Slobodan Milosevic, Hugo Chávez e tantos outros ditadores de democratas. Cada um desses senhores citados acima; participou e venceu pelo menos uma eleição democrática (direta ou indireta e alguns deles com votações expressivas e esmagadoras) ou foi escolhido de acordo com o sistema eleitoral de seu país e dentro das normas representativas aceitas internacionalmente.
Por isso, se você pensa que uma democracia é um governo onde há eleições para escolher os seus representantes; tire o seu cavalo da chuva. A coisa é muito mais complicada do que isso. Para ser considerada uma democracia, uma nação deve ter liberdades asseguradas e permitir o pleno exercício da cidadania. Seja a liberdade de pensamento, de ação, de associação, de religião, de escolha de seus representantes e, principalmente, uma nação deve exigir que todos respeitem as leis igualmente ou sofram a mesma punição de acordo com seus crimes. Uma prova disso pode ser obtida no fato de que, durante muito tempo, bastava uma nação exibir em seu nome a palavra “Democrática” para que todos soubessem que se tratava de uma ditadura feroz.
Por isso, mais do que uma simples palavra ou um mero voto “para inglês ver”, uma nação democrática deve ter em seu cerne o respeito ao cidadão. Como dizer que um país é democrático se nele um cidadão não pode dizer o que pensa sem ser punido, caso desagrade o mandatário eleito “democraticamente”.
Em alguns países “democráticos” do planeta; uma simples opinião contrária aos pensamentos dos políticos locais pode ser punida com prisão, morte ou expropriação de toda uma vida de lutas e conquistas.
Assim, neste próximo Dia da Democracia, tenha certeza de que o conjunto de liberdades que compõe uma democracia depende muito mais do valor que o cidadão dá a ele do que ao simples ato de votar.
O cidadão de uma nação democrática deve fazer a sua parte e compreender que é dele a responsabilidade quando as coisas vão bem ou quando elas vão mal. É dele que deve partir a iniciativa de mudar rumos e romper tradições que não se mostram mais eficazes. É dele a responsabilidade de acompanhar o que acontece no Parlamento e como se comportam aqueles que elegeu. Cabe a ele cobrar e punir, quando seus eleitos apresentam desvios de conduta. Cabe a ele cobrar ética e probidade a cada passo e a cada decisão que gere gasto de nossas riquezas. Cabe a ele acompanhar, cobrar e agir para uma nação melhor e, principalmente, cabe a ele não se omitir e entender que uma nação só é grande se o seu povo assim desejar.
Finalmente; cabe ao cidadão compreender o seu papel no sistema e entender que o voto é algo que começa muito antes do dia da eleição e termina muito depois. O Voto deve ser construído com entendimento e com análise criteriosa; com acompanhamento e responsabilidade. Não com preguiça, omissão e alienação.
Somente quando isso acontecer poderemos afirmar que vivemos numa real democracia.
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