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Hoje, no Olhar Panorâmico na Blogosfera, nossa coluna dominical de indicação de blogs; teremos a presença de um blog político com uma visão sarcástica, polêmica e muito bem construída por seu editor. O blog de hoje é o…
Abaixo uma pequena amostra dos textos que você encontrará por lá. O artigo foi enviado pelo editor do Livre Pensador, o Wellington Lisboa de Sena e a sua reprodução aqui foi autorizada por ele graciosamente.
Boas leituras!
O BRASIL MENTECAPTO
Wellington Lisboa de Sena
Em 1979, em fins da ditadura militar brasileira, Fernando Sabino lançou uma obra primorosa, fruto de profunda preparação e artesanato impecável: O Grande Mentecapto. Nesse romance, o autor elabora uma trama com a nítida intenção de homenagear as pessoas humildes, simples e puras. Já na epígrafe da narrativa é citado: “Todo aquele, pois, que se fizer pequeno como este menino, este será o maior no reino dos céus.” Nota-se a vontade de elevar os puros, os inocentes e os ingênuos.
Na linha da novela picaresca, vive Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes, em que o personagem desloca-se por um espaço indefinido, à cata dos conflitos, para resolvê-los heroicamente. Assim é Viramundo, personagem principal da obra em que vive uma seqüência de peripécias acontecidas no Estado de Minas Gerais, contracenando com personagens dos mais variados matizes e comportando-se sempre como o bem-intencionado, o puro, o ingênuo submetido às artimanhas e maldades de um mundo que ainda não está de todo resolvido. Andarilho, louco, despossuído, vagabundo, idealista. Marginal em uma sociedade que não entende e em que não se enquadra, o Viramundo instaura um sentimento de ternura e de pena por todos aqueles que, em sua simplicidade, sofrem o descaso, a ironia, a opressão e a prepotência.
O brasileiro comum, impotente contribuinte que a cada dia vê e se vê inserido numa sociedade cujos valores mudam a cada instante, defronta-se com uma realidade surreal. Viramundo é brasileiro. Viramundo é sonhador. Lula também é sonhador – acha que pode eleger Dilma nas eleições de 2010. Mas Lula, diferentemente do personagem de Fernando Sabino, sabe a verdadeira raiz dos problemas que aflingem o estômago do Brasil. Com a arrecadação federal em queda livre e com uma carga tributária das mais elevadas, aliada a rombos crescentes no cofre da previdência, são ingredientes nada convencionais para uma má digestão no futuro. A receita do “espetáculo do crescimento” do início do governo e tão proferida por Lula durante a campanha presidencial já não está surtindo tanto efeito. Mas Lula vive de anaforismos. Em 2008, a carga tributária brasileira bateu novo recorde histórico e chegou a 35,8% do PIB (Produto Interno Bruto) do país. Nos 15 anos desde a implantação do Plano Real, só houve redução da carga tributária em 1996 e 2003, que também foram anos de crise. No mundo de Viramundo, tudo pode dar certo, até mesmo em épocas de recessão. Com toda a falcatrua e corrupção deslavada que se desnuda nos corredores do poder, mesmo com apoio irremediável de Lula a determinados figurões e almas sebosas do passado, acredito piamente que nosso presidente se transformou em um diplomático Viramundo.
Viramundo, assim como Lula, conhece que o mundo é uma grande metáfora e o trata com idealismo como se ele fosse real. Consertar o mundo é sua missão e ele se dedica a ela com toda a força de sua decisão, não se deixando abalar pelo insucesso, pelo ridículo, pela violência ou pelo vitupério. Em seu delírio, o irreal e o real andam de mãos dadas, não há a separação entre o concreto e o abstrato, e por isso o herói não se abala física ou emocionalmente com nada com que se defronte: não teme os fortes, os violentos; não se assusta com fantasmas e nem com ameaças; aceita resignadamente o que a vida lhe reserva, até mesmo em fazer acreditar que tudo pode ser diferente no amanhã.
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