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Hoje o entrevistado é o blogueiro Dmitry Rocha – editor do Blog Pipoca de Bits. Um blog de variedades com destaques para curiosidades, arte e humor.
A série de entrevistas “A Visão Política da Blogosfera” continuará ao longo desta semana trazendo, a cada dia, um blogueiro diferente para falar de assuntos ligados a política e a blogosfera.
Não deixem de comentar.
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Visão Panorâmica – Vemos que a classe política brasileira e a população aceitaram a tese do plebiscito PT versus PSDB para essas eleições. Além de disfarçar as mazelas cometidas pelo governo atual e pelos que o antecederam, você não acha que a tese plebiscitária empobrece o debate sobre as verdadeiras necessidades do país? A quem serve essa proposta e como evitar que isso se repita futuramente?
Dmitry – O primeiro problema é a maneira como os políticos vêem a própria disputa política. Por um lado temos o modelo plebiscitário, mas por outro temos entre os candidatos (a presidência inclusive), pessoas que não se levam a sério e que claramente não saberiam o que fazer se ganhassem a eleição. O modelo criado para a campanha, com uns tendo muitos minutos na TV e outros apenas segundos, não permite o verdadeiro debate de idéias e propostas. Logicamente não existe interesse em mudar este quadro, afinal quem está no poder (ou perto dele) tem mais tempo. Tenho a absoluta certeza que nada vai mudar, pois uma modificação na lei depende de vontade política e para isso não há interesse.
Visão Panorâmica – Essa é a eleição em que a Internet tem o maior papel de todos os tempos. Sabemos que ainda estamos longe do “Efeito Obama”. Mas, como você tem percebido a movimentação na Internet e seu uso na propaganda, captação de recursos, fiscalização de campanhas e difusão de informações? Qual seria, em sua opinião, o papel fundamental da Internet no cenário das eleições brasileiras?
Dmitry – Atualmente a Internet pouco tem influenciado as eleições. Vejo muito se falar na campanha pela web e em candidatos utilizando as mídias sociais, mas infelizmente a maneira como nossa população utiliza a Internet ainda não envolve o pensamento político. Vejo a penetração das classes D e E na rede, mas não para a busca por informações e sim para redes sociais como portais de fofoca. Sites de celebridades, contas de famosos no Twitter e mensageiros instantâneos fazem sucesso e não portais de notícias, sites de política ou até mesmo de políticos. Na minha opinião, o papel principal da Internet atualmente é o de mobilizar as pessoas que já acompanham o processo eleitoral, e que infelizmente não representam a maioria dos votantes.
Visão Panorâmica – Ainda do ponto de vista da Internet, como você vê a atuação da blogosfera política brasileira e o que falta para que ela atinja o nível de relevância da americana e da européia; atuando decisivamente na construção de candidatos ou na destruição das falsas campanhas?
Dmitry – A blogosfera política está atuando muito nestas eleições, mas os políticos ainda dão mais importâncias às mídias tradicionais. O grosso do eleitorado, aquele que é realmente responsável pela eleição de um candidato, não busca informações em blogs de política. Na verdade, não possui condições nem mesmo de compreender inteiramente um texto que aborde o tema, dada a educação oferecida pelo ensino público atualmente. Talvez, com mais alguns anos e uma difusão maior de informações, o eleitor brasileiro possa considerar o Internet e os blogs como locais válidos para a busca de informações para a decisão de quem irá comandar o país.
Visão Panorâmica – Conforme as eleições se aproximam, diversos blogs patrocinados por candidatos ou partidos apareceram para criar “notícias” contra ou a favor de uma ou de outra corrente política. Você acha esse quadro perigoso para a democracia? Como impedir que esse tipo de expediente seja uma prática comum daqui em diante?
Dmitry – Notícias de diversas áreas provam que controlar o fluxo de informação na Internet é um trabalho difícil e delicado. Jornais, emissoras de rádio e televisão e até panfletos já fizeram este mesmo trabalho, e continuam fazendo. Impedir o desenvolvimento de sites e blogs pode ser um grave risco à liberdade de expressão, afinal sabemos que a roda do judiciário gira mais rapidamente se interesses importantes estiverem em jogo. Abrir um site e escrever mentiras é muito simples, por isso a estratégia para combater as calúnias digitais ainda deve ser pensada, não somente por políticos, mas sim por pessoas que vivem e desenvolvem o mundo digital.
Visão Panorâmica – Você tomou conhecimento do Movimento Blogueiros Progressistas? Leu o manifesto? Qual a sua opinião sobre eles? O movimento não ganharia mais legitimidade se, ao invés de ser patrocinado por entidades ligadas ao governo e que recebem verbas públicas, tivesse sido elaborado com uma visão mais pluralista e mais representativa da enorme diversidade de visões da blogosfera?
Dmitry – Conheci o manifesto do Movimento e tudo o que vi foi uma tentativa de inserir blogs no bolo onde já se alimenta a mídia tradicional. Sabemos que muitos canais de televisão ganham grande parte de sua receita na verba publicitária de empresas estatais e do próprio governo. É exatamente aí que me bati com o Movimento. Eles querem verbas públicas para financiar blogs através de anúncios. Será que pontos de vista contrários ao governo (atual ou qualquer outro) ganhariam o mesmo valor? Precisamos de um Adsense estatal para viabilizar blogs?
Outro ponto que me chamou a atenção foi que se puxa muito a “sardinha” para o próprio movimento, que criaria um monopólio sobre a ideologia da Internet. Quem não escreve textos condizentes com o Movimento seria expulso?
Visão Panorâmica – O Judiciário vem sendo usado como principal arma de coerção para calar os blogs que contrariam as vontades e pretensões de políticos e celebridades. O que você pensa sobre as tentativas de criação de uma entidade que proteja os blogueiros dessas ações e forneça orientação jurídica em relação às questões que são pertinentes a atividade de blogar? Ao mesmo tempo, diga suas impressões a respeito do fracasso de formar uma entidade assim até agora. O que leva o blogueiro brasileiro a compreender a necessidade de uma entidade como esta, mas a recusar participar em sua criação ou abonar o seu desenvolvimento?
Dmitry – O Judiciário é formado por pessoas que não vivem o mundo digital e não entendem como isso funciona. Exatamente por isso é fácil o editor de um blog “sair da linha” e acabar com um processo na mão. As pessoas acham que estão protegidas atrás do grande muro do anonimato. O mundo não funciona assim. Grandes jornais e revistas possuem departamentos jurídicos para cuidar de exageros cometidos por seus repórteres e colunistas. Se a pessoa possui um blog ou uma conta no Twitter às coisas são diferentes. Citando um filme que entrará em cartaz este ano: “As coisas na Internet não são escritas a lápis e sim a caneta.” O que é posto no Orkut, Twitter ou Blog não pode ser apagado e esquecido facilmente, além de servir de prova em processos judiciais. Esta é a primeira coisa que uma pessoa deve pensar quando está na rede.
Sobre a criação de uma entidade para defesa de blogueiros a minha primeira pergunta é: quem vai pagar por isso? O governo só pagaria se pudesse tirar algum proveito disso, os próprios blogueiros não possuem o capital para se defenderem e não gostam de pagar por nada. Não existe nada grátis nesse mundo, por isso observo isso com cautela.
A maioria dos blogueiros entende que pode ser processada, mas os indivíduos em geral não querem pagar por um advogado que não seja direta e imediatamente para defesa própria. Um maior sentido de comunidade precisaria ser criado antes da possibilidade de sucesso de uma iniciativa como esta.
Visão Panorâmica – O voto facultativo pode ser uma das soluções para aumentar a qualidade dos políticos e dos partidos ou pode acabar se transformando numa arma em favor dos coronéis e dos compradores de voto, tornando-se uma ameaça ainda maior a democracia?
Dmitry – Sempre fui a favor do voto facultativo. Qualquer um que já esteve na fila em um dia de votação já ouviu comentários de pessoas que preferia estar na praia ou em um bar do que estar votando. São eleitores que não se importam com o voto, qualquer um serve. Isso já é uma arma na mão de coronéis e compradores de voto.
O voto facultativo deveria ser instituído em conjunto com punições maiores para compra de votos e um esquema melhor para a fiscalização deste tipo de atividade.
Se a pessoa sai de casa por livre e espontânea vontade para ir a uma urna escolher seu representante político ela faz isso com mais consciência.
Visão Panorâmica – Como você vê as constantes tentativas do governo de controlar a mídia e a Internet? Percebe uma ameaça às liberdades constitucionais ou acha que isso é “intriga da oposição” e não há um perigo real e imediato?
Dmitry – É claro que existe uma tentativa de controlar o fluxo de informações. Uma população mal informada é mais fácil de ser “manobrada”. Mesmo que não existam escândalos sobre o controle da mídia é lógico que para um governante é melhor manter ela sob rédea curta. O pior é que a oposição, que agora faz intriga, faria tudo igualzinho.
Visão Panorâmica – Candidatos como Tiririca provocam muita comoção e críticas em relação à qualidade dos políticos e o voto-celebridade. Mas, na verdade, a principal culpa de surgirem candidatos assim, que invariavelmente se elegem, não é do próprio eleitor? Afinal, sem votos eles jamais seriam eleitos. Como melhorar esse cenário?
Dmitry – O primeiro culpado por isso é a Lei Eleitoral, que faz uma matemática de difícil compreensão para o eleitor de como os votos são computados. Os partidos buscam desesperadamente por celebridades, pois eles ajudam a eleger outros candidatos da legenda. Tiririca vai levar para Brasília um número grande de deputados que não se elegeriam por vontade própria.
O eleitor vota nele ou em outras celebridades por diversos motivos. O primeiro deles é certeza de que seu voto não muda nada. Para muitos eleitores, Tiririca é só mais um roubando em Brasília, portanto é ao menos um que o faz rir. O problema é que quem votou em Tiririca não votou em Valdemar Costa Neto ou no Pastor Paulo Freire, mas vai estar os elegendo do mesmo jeito.
Isso só iria melhorar mudando a lei eleitoral para que os votos fossem contados quantitativamente, ou seja, 1 milhão de votos para Tiririca seriam 1 milhão de votos para este candidato, sem reflexo no seu partido. Quer votar no partido faça um voto de legenda.
Outro fator para que as celebridades não continuassem sendo eleitas seria uma melhor educação da população, desde o ensino fundamental, instrumentalizando o cidadão para o pensamento crítico. Não tenho muitas esperanças de que isso vá acontecer, precisaria de vontade política e a última coisa que o modelo político atual precisa é de cidadãos informados e conscientes.
Visão Panorâmica – Deixe um recado aos leitores.
Dmitry – Fiquei muito honrado com o convite feito pelo Visão Panorâmica para dar minhas opiniões aqui. Quem acompanha meus comentários aqui sabe que minha esperança na consciência política do eleitor brasileiro é muito pequena, mas ela ainda resiste. Espero que você se informe sobre seu candidato, principalmente aos cargos legislativos, pois como estes não têm muito espaço na TV pouco sabemos sobre eles. Aproveite o tempo que resta e utilize as ferramentas na web (blogs, sites de pesquisa e até de jornais) para conhecer melhor a pessoa a quem você confiará seu voto. Além disso, é importante acompanhar depois das eleições o candidato, mas esquecemos de cobrar.
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A VISÃO POLÍTICA DA BLOGOSFERA – DMITRY – PIPOCA DE BITS.
