A VISÃO POLÍTICA DA BLOGOSFERA – ALESSANDRO MARTINS – LIVROS E AFINS.

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Entrevista Panorâmica - Alessandro Marins - Livros e Afins

 

Hoje, a série de entrevistas “A Visão Política da Blogosfera” trás para vocês o blogueiro Alessandro Martins, editor do Blog Livros e Afins.

Jornalista e um militante da causa da leitura, Alessandro Martins, usa seu blog como ponta de lança da valorização do hábito e do prazer de ler. Sempre com dicas sobre autores clássicos ou contemporâneos, o seu blog representa uma luz para quem aprecia a leitura ou inicia sua caminhada rumo ao mundo maravilhoso dos livros.

Bem-humorado, crítico e dono de uma visão aguçada para o mundo que o cerca, a presença de Alessandro Martins nessa série de entrevistas, traz para os leitores do Visão Panorâmica um pouco dessa visão de mundo.

Leiam e comentem.

 

livros e afins

 

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A Visão Política da Blogosfera - Alessandro Martins - Livros e Afins 

Visão Panorâmica – Hoje há um enorme descrédito em relação aos políticos. Mas, Já foi diferente? Historicamente vivemos um momento mais pobre politicamente ou o Brasil sempre sofreu desse mal?

Alessandro – Temos a tendência de sempre acreditar que o momento que vivemos é sempre pior que o passado. Que dizer do coronelismo, de meados do século passado? Não acho que aquilo fosse melhor. Acho que vivemos um momento bom. De crise. Essa história de votos no Tiririca, por exemplo. É ridículo e pode trazer problemas. Mas é um sinal da crise. Por outro lado, coloca-se muito do que seria nossa responsabilidade nas costas dos políticos. Creio que a comunidade e o indivíduo, atualmente, devem não contar com os governos para viver. Devem viver bem apesar dos governos. Sinceramente, votar é importante, mas depositar as expectativas para o futuro em um simples voto é esperar demais. Uma ilusão. O futuro e o bem-estar individual e coletivo se constroem no dia a dia e não uma vez a cada quatro anos.

 

 

Visão Panorâmica – Você é um blogueiro de sucesso e é reconhecido pelo seu trabalho. Como você encara a blogosfera política e como definiria suas virtudes e vícios? O que falta, em sua opinião, para que ela atinja relevância semelhante ao que os blogs experimentam nos EUA? Como combater o paradigma brasileiro de alienação e a falta de interesse dos leitores?

Alessandro – Pelo que sei, a blogosfera política desperta debates ácidos e inflamados. Talvez ainda não tenhamos uma relevância tão grande quanto a do país que usou de exemplo, mas já temos. O problema é que, quando entramos no terreno político, ainda temos casos em que se prefere rifar a razão pelo simples bem estar de se sentir parte de um grupo. Mas isso não acontece apenas na blogosfera.

 

Previdência social

 

Visão Panorâmica – E sobre o Movimento dos Blogueiros Progressistas. Você não acha incômodo um grupo de profissionais, que diz pretender representar uma classe inteira, ser formado apenas por uma única corrente de pensamento e, ainda por cima, realizar um evento patrocinado por entidades ligadas diretamente a um único partido ou que recebam verbas públicas? Como criar um verdadeiro debate plural e abrangente sobre a participação dos blogueiros e da blogosfera, com todas as suas nuances?

Alessandro – O que as outras correntes de pensamento estão fazendo neste momento? É uma boa pergunta. No entanto, ainda que uma corrente de pensamento tome a iniciativa, movida por este ou aquele interesse – discordemos deles ou não -, é inevitável que, com o passar do tempo se elevem outras correntes mais ou menos antagonistas, movidas por outros interesses. É assim em todos os movimentos. É só olhar para a história.

 

 

Visão Panorâmica – Ainda em relação à pergunta anterior; todas as tentativas de unir a blogosfera em torno de causas comuns e de anseios dos próprios blogueiros deram em nada. Já se buscou a criação de uma entidade que nos protegesse da ingerência do Estado, da litigância de má fé e prestasse assessoria no dia a dia. Entretanto, todas as iniciativas falharam. Como você percebe essa realidade e porque os blogueiros não conseguem se reunir para debater algo de tamanha importância? Há uma forma de mudar essa visão isolacionista e romântica do ato de blogar e levá-lo a um patamar mais profissional? O que provoca essa desunião intensa entre os blogueiros quando o assunto não passa por um encontro no boteco?

Alessandro – Talvez nem o boteco exista mais. Acho que o blogueiro é individualista por si só. O blog depende só dele para ser criado e atualizado, ainda que existam blogs coletivos. Em uma ocupação dessa natureza é difícil de fato reunir as pessoas em uma causa comum.

 

senado

 

Visão Panorâmica – O uso do Judiciário tem sido a grande mola propulsora do combate aos blogs. Mesmo sabendo que perderão as ações em instâncias superiores, políticos, entidades, celebridades e mesmo pessoas comuns têm acionado judicialmente os blogs com o único intuito de levar o blogueiro a retirar seus artigos e opiniões “do ar” ou enfrentar uma batalha cara e prolongada nos tribunais. Cito sempre o caso do Nova Corja como mostra especialmente emblemática disso, pois a litigância de má fé ficou exposta claramente como meio para calar os editores do blog – o que acabou dando certo. Em sua visão há uma forma de proteger-se disso, sem dispor de vastos recursos financeiros, ou todos os blogs políticos, uma hora ou outra, acabarão perecendo diante desse mesmo artifício?

Alessandro – Tirando a possibilidade de enfrentamento jurídico, a saída é a criatividade. Sempre é. Já tivemos épocas de fato terríveis quando imperava a censura. Censura mesmo. E, ainda assim, os jornais e artistas conseguiam meios para driblar a violência física e moral. A saída é a criatividade, jogar com as regras e não ter medo.

 

 

Visão Panorâmica – Marina Silva disse que os políticos brasileiros tratam o povo como criança. É a “Mãe” disso, o “Pai daquilo”, e o “Messias” salvador do momento. Em sua opinião, por que o brasileiro aceita esse tratamento infantilizado e, até que ponto, a baixa instrução é responsável por isso? Como a blogosfera pode agir para mudar essa visão?

Alessandro – Como eu disse em resposta anterior, a idéia é depender cada vez menos do governo. É viver apesar do governo. Mas isso leva tempo. Não existe remédio de uma hora para a outra. Leva tempo.

 

 

Visão Panorâmica – Qual a sua opinião sobre o aborto, o voto facultativo, a união civil homossexual e o papel das religiões e suas bancadas nesse debate? Há um preceito constitucional que classifica o Estado como “laico”. Não seria o caso, então, de proibir-se a candidatura de elementos ligados diretamente a esta ou àquela Igreja ou religião?

Alessandro – A religião é algo individual, muito embora esteja ligada a grupos. Política é algo que diz respeito ao coletivo. Acho válido religiosos participarem do processo, desde que tenham cultura e inteligência suficientes para separar as duas coisas. O que, no entanto, acho difícil. Na prática não vemos isso acontecer.

 

Pesquisas Eleitorais

 

Visão Panorâmica – E em relação ao voto facultativo. Você acha que o fato do brasileiro ser tido por alguns como completamente alienado esse instrumento pode representar, ao invés de uma melhoria na qualidade da política e dos políticos eleitos, uma ameaça à democracia e a exclusão definitiva das massas do processo eleitoral? Centralizando a escolha apenas pelo pensamento das “elites pensantes”?

Alessandro – Mais uma vez: o processo político se dá, em minha opinião, de forma muito mais contundente entre os períodos que há entre se colocar o voto na urna que no próprio voto. É uma ilusão achar que esse gesto pode fazer diferença quando não se participa ativamente na comunidade durante os quatro anos entre uma eleição e outra. Falamos muito do voto facultativo, mas nossa participação política e ética no dia a dia do lugar onde vivemos é mais importante. E todo mundo cansa de facultar essa participação. Sem sequer se dar conta disso.

 

 

Visão Panorâmica – Como você interpreta o crescente avanço dos governos latinoamericanos sobre as liberdades individuais, notadamente a de expressão e de pensamento? Especificamente, aqui no Brasil, a coisa parece estar se intensificando e é crescente o número de blogs – e até de grandes jornais – ameaçados de censura ou fechamento. As últimas decisões judiciais, ameaçando de prisão, um blogueiro de Minas Gerais pelo simples fato dele ter oferecido um link para uma animação que satirizava o candidato Hélio Costa não seria uma prova cabal de que os “anos de chumbo” estão voltando?

Alessandro – É possível, mas prefiro crer num momento de crise em que todos estamos aprendendo a lidar com a liberdade. A liberdade é como um fogo, de fato, e creio que quando o fogo foi descoberto muitas pessoas se queimaram ao tentar mexer com ele. Não sei detalhes do caso, mas certamente ameaça de prisão é um exagero para tal caso. Certamente, daqui a alguns anos, o juiz que tomou essa decisão e os demais envolvidos serão lembrados por uma medida desproporcional e digna de vergonha.

 

 

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