sobre a lei da oferta e da procura

A fábula do lobo traficante

A sociedade dos cordeiros condenou aquele lobo a 20 anos de prisão. Era terrível o seu crime: tráfico de entorpecentes. Por sua causa, milhares de cordeirinhos destruíram suas vidas. O lobo era o inimigo público nº. 1.
Vinte anos depois, apesar de esse e de outros lobos-traficantes terem sido presos, a sociedade dos cordeiros estava mergulhada no vício. Era um problema de segurança nacional. Talvez por isso um repórter resolveu entrevistar aquele lobo, à saída da penitenciária. Estaria ele arrependido? Teria consciência do que provocara? Sentia-se injustiçado?
Afinal, a sociedade dos cordeiros cumprira, rigorosamente, a Lei. Só que alguma coisa estava errada. Lobos-traficantes eram presos todos os dias, enquanto aumentava o consumo de tóxico.

– Qual a opinião de um lobo que pagou 20 anos por um dos piores crimes contra a humanidade?
– Você quer mesmo saber? – foi logo falando o lobo – O problema não se restringe a mim, nem aos que me seguiram nessa profissão. Eu cometi parte do crime, reconheço, comercializando um produto proibido…
– E quem cometeu outra parte? – indagou o repórter, ele próprio irritado com a desfaçatez do lobo.
– Ora, a sociedade dos cordeiros! – afirmou o lobo – Acaso fui eu que provoquei a corrida ao tóxico? Como seria possível eu me tornar um traficante, se não houvesse procura do meu produto?
“Isso faz sentido”, pensou o repórter. E arriscou uma outra pergunta: – Como a sociedade dos cordeiros poderia ter evitado tudo isso?
– Ora, pergunte a ela, respondeu o lobo. Mas dificilmente a sociedade dos cordeiros concordará que tem parte dessa culpa. Para isso, seria necessário que cada cordeiro, em particular, meditasse sobre sua própria vida e o que considera melhor para seu rebanho. Mas você sabe que meditar, refletir, ponderar e se auto-analisar é muito difícil, quando há tantos lobos à disposição para assumir todas as culpas.

Quando a entrevista com o lobo-traficante foi publicada, a sociedade dos cordeiros reagiu: os lobos são criminosos irrecuperáveis, cínicos, arrogantes e diversionistas. Para eles, só mesmo a pena de morte.

PORTELA, Fernando. A fábula do lobo traficante.
Gazeta do Povo, 15 mar. 1985.

Estamos sobre o principio básico da economia e continuaremos por muito tempo. É a lei da oferta e da procura. É inquestionável: se não houvesse quem procurasse pelo produto do crime, o crime em questão não existiria. Desta forma, é aí, onde primeiramente percebemos as falhas da nossa administração, que parece não conhecer a lei.

O problema criminal no Brasil, seja o crime qual for, não se restringe ao opressor que o comete, nem muito menos a prisão deste, como as autoridades nos fazem acreditar. A problemática envolve todo o terreno em questão, seus habitantes e suas verdadeiras causas. Explico.

Se não houvesse interesse por um produto pirata, por exemplo, a pirataria não existiria. Assim como também, se os produtos originais não fossem tão caros, não haveria procura pelo mais barato, a julgar pela qualidade. Ampliando ainda mais, perceberíamos que se tivéssemos um programa cultural para mais acessibilidade aos produtos, a mazela não viria a se formar. E assim continuaríamos a encontrar as verdadeiras causas da situação, se continuássemos ampliando a visão.

Em síntese, o que quero dizer é que o crime tem sua composição num universo bastante complexo de fatores. Entretanto, ignorando esse universo para facilitar o cumprimento de suas obrigações, nossos administradores, injeta-nos a idéia da prisão como a solução do crime e nossa sociedade, mesmo percebendo a impunidade e as falhas da nossa justiça, nessa perspectiva, busca distanciamento do infrator, acreditando que só isso basta para sua segurança.

E é essa atitude que gera todo o caos que estamos vivendo. É aí que está a origem de toda a injustiça, que é apontada como causa principal da criminalidade. Se tivermos que prender o delinqüente direto, deveríamos também ter que prender os delinqüentes indiretos, que também se beneficiam do crime. E isso é impraticável.

Nossas autoridades se dão o trabalho (?) de criar políticas descabidas de prisão e depois de ressocialização, quando na verdade não buscam os motivos incentivadores do crime. É um jogo de mentiras e pseudo-soluções. E nós, meros vira-latas de estimação, deitamos e rolamos, brincando com a situação.

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