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A promoção transformou Lucimara. Havia pouco mais de seis meses que ela deixara a sala de aula para aposentar o avental branco, o giz e o apagador. Tempos duros. Diante das novas amigas – todas supervisoras – como ela, referia-se sempre às antigas companheiras de magistério de maneira jocosa.
Depois de mais de vinte anos dentro de uma sala de aula – comendo o pão que o diabo amassou – como gostava de dizer, Lucimara, enfim, subira um degrau dentro da Instituição de Ensino. Supervisora! Supervisora!
No dia em que saiu a sua promoção, para comemorar o feito, jantou com o marido e os filhos numa churrascaria que funcionava no sistema de rodízio. Empanturrou-se de carnes e bebidas – tudo da melhor qualidade, of course.
Lucimara apoiou os dois cotovelos sobre a mesa e revelou outra faceta da sua natureza, a soberba. O marido a estranhou, os filhos arregalaram os olhos. Enquanto limpava a boca com o guardanapo com a mesma sutileza que um flanelinha tem ao limpar o vidro do carro no farol, ela mudou o tom de sua voz. Deixara de lado a voz esganiçada dos tempos de professora para dar vez a uma voz impostada. Voz de supervisora, a qual julgava mais condizente ao novo cargo. Tolices. Tolice.
Lucimara, a maioral!
O novo departamento ficava do outro lado da rua, mas na cabeça da nova supervisora criou-se uma distância oceânica como se ela estivesse no Palácio de Buckingham, a poderosa. Ascenção social. Ascenção social.
Já não almoçava mais com as amigas de anos e anos. Aboliu do seu vocabulário expressões elementares como “por favor”. É que novos poderosos não fazem uso de expressões assim. Novos poderosos não pedem licença, atropelam. Novos poderosos não conhecem nada além de seus próprios umbigos.
Em seu novo cargo, Lucimara tinha metas a cumprir, não lhe sobrava tempo para gentilezas e sentimentalidades.
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