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Finalmente alguém se mexeu e um pedido formal de julgamento foi posto na mesa do “Conselho de Ética” (isso mesmo, entre aspas. Afinal de contas ética é algo quase desconhecido no Senado Federal). Depois da situação chegar a níveis insustentáveis e que beiram ao colapso institucional (sem nenhum alarmismo); o senador Arthur Virgílio entrou com o pedido de investigação após ter sido denunciado como beneficiário das maracutaias dos ex-diretores Agaciel Maia e João Carlos Zoghbi, por meio de uma reportagem publicada neste final de semana.
A verdade é que a tentativa de calar ou de intimidar os senadores descontentes, com a comum prática de divulgar o “rabo preso” de todo mundo, não deu certo. E, com as provas esmagadoras dos desvios cometidos por Sarney e (segundo palavras de Arthur Virgílio) dos bandidos que ele indicou para a diretoria do senado; a situação de Sarney está muito pior do que o “inocente” presidente Lula pode pensar. Mesmo com os insistentes comandos vindos do Planalto para que o PT apóie Sarney “até a morte” (quem te viu e quem te vê), Sarney vive um momento extremamente delicado.
Em paralelo a isso, cresce pelo país a indignação do eleitorado mais consciente e manifestações de repúdio começam a se avolumar e a espalharem-se pela Internet. No Twitter já há a tag (#forasarney) que é colocada em cada mensagem enviada e que fará com que a frase fique estampada nos “Trending Topics”. Já há também um site onde o internauta pode comentar e extravasar a sua raiva contra o bigode mais odiado da nação e solicitar que esse velho coronel peça o seu boné e retire-se do senado; enquanto ainda pode esperar fazê-lo com alguma dignidade.
Como não podia deixar de ser o site já diz ao que veio até no nome: FORA SARNEY! Também há um perfil no Twitter especial para o FORA SARNEY e um fórum do FORA SARNEY onde se pode conseguir informações sobre protestos e passeatas. Basta agora que você faça a sua parte e mostre sua indignação e seu protesto contra esse senhor que age como se ainda vivêssemos no século XIX ou nos tempos do feudalismo.
No entanto, é importante salientar que a figura de José Sarney é apenas um ícone desse mal e da perversidade com que os cofres públicos são tratados por esses senhores. Afinal de contas, é impossível conceber que dois meros funcionários (mesmo tendo cargos poderosos) tenham feito tudo o que fizeram (durante quinze anos) sem o conhecimento e o apoio complacente de nenhum senador ou de nenhum membro das mesas diretoras que se sucederam durante todo esse período.
Também é importante lembrar que o cargo de Senador da República é majoritário. Ou seja, para ser um senador é preciso ter uma votação expressiva em seu estado. Por isso, é uma ilusão culpar apenas Sarney, seus amigos e parentes (assim como qualquer outro senador envolvido). O principal culpado somos nós. Pois, ao votar sem considerar o comportamento do político em sua vida privada ou pública, damos a eles a ideia de que tudo podem e de que não nos importamos quando nos roubam. Sarney foi eleito e reeleito e seu modo de agir (como o de muitos outros) não é algo novo ou inusitado; é frequente e corriqueiro para a maioria dos senadores que lá estão. Por isso, se desejamos um Senado melhor e mais capaz, temos de ser um eleitorado melhor e mais capaz. Cobrando ética e respeito a coisa pública e punindo com o “não voto” aqueles políticos que se desviem do que desejamos. Enquanto senadores, deputados e demais políticos se sentirem livres e “absolvidos pelas urnas”, o Brasil nunca mudará.
O simples fato do diretor Agaciel Maia fornecer “socorro financeiro” para alguns senadores e ser tratado, por muitos, como “senador”; dá ao caso a sua real abrangência e a sua potencial virulência e gravidade. Paira sobre o Senado Federal uma suspeição nunca vista na nossa história e, desse sentimento, nada de bom pode advir. Os últimos acontecimentos em Honduras poderão até dar o tom do que se esperar por aqui se as coisas continuarem rumando para o abismo sem fundo de agora. Uma crise de confiança generalizada e instituições paralisadas pela corrupção e pela inércia, poderá acender a chama que (todos esperamos que não) parece ainda estar presente sobre as jovens democracias de nosso continente.
Esperemos que esse seja o momento em que os partidos políticos brasileiros percebam que, com a Internet e a liberdade de expressão, é praticamente impossível esconder-se qualquer informação ou escândalo por muito tempo. Assim sendo, desejamos que comecem a estudar melhor os candidatos postulantes a cargos eletivos e que não entreguem suas legendas a qualquer marginal que esteja disposto a pagar por ela.
Ao mesmo tempo, exigir a punição exemplar de funcionários e senadores envolvidos deve ser a tônica de todos nós, a cada minuto do dia. Os gastos do Senado, e dos demais poderes, ultrapassam o absurdo. Dinheiro público é jogado fora em altíssimos salários (um segurança do senado pode ganhar mais do que um general do exército; um motorista mais do que um piloto de jato comercial; um ascensorista ganha mais do que o presidente Lula e o copeiro – serve café e água – ganha mais do que um maître de um restaurante cinco estrelas em São Paulo); em mordomias injustificáveis e em gastos meramente particulares. (Fonte: Veja (01/07) nº 26; pág. 79)
A mudança do cidadão, provocará a mudança nos partidos e acabará provocando a mudança na qualidade dos políticos. Infelizmente esse é um processo demorado, sendo capaz de provocar muitos efeitos colaterais ao longo do tempo e de causar enormes dores de cabeça para todos nós.
Mas deve começar algum dia. Que seja agora então.
Pense nisso.
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Este artigo foi escrito originalmente para o Blog Visâo Panorâmica. A reprodução só é permitida com autorização expressa do autor. Solicite atravéz daqui:arthurius_maximus@visaopanoramica.com