Sou um velho transeunte das vielas, ruas e avenidas que me cruzam. Moro nas lonjuras, perto dos ossos quebrados. Estou preso ao engarrafamento desse túnel que liga o nada ao lugar nenhum. Têm sido assim as últimas horas, dias, meses e anos. Vejo tudo duma janela semiaberta. Cerro os dentes, dinossauro que sou. Cerro-me. Habito os vãos. Perco-me sempre que posso. Perco-me sempre. Às vezes, até o juízo. Não sei se isso é bom ou se é ruim. Não sei. Sou assim. Sujeito de mim. Assujeitado, só às coisas que me arrebatam. Como disse aquele amigo: sou um impulso, uma vida inteira. Os pneus deslindam o asfalto molhado. A borracha e o asfalto. Porrada e afeto. O suave e o duro. Vida sem gelo perto dos ossos quebrados. Vida assim arranha; é estranha. Vida assim é um trago que se toma a seco, querendo ou não.
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