Estilo é tudo já dizia o velho Bukowski. Quem não o tem, não tem nada. Eu era bem menino enquanto a vida seguia lenta. Uns eram modernos, outros retrô e muitos gostavam de ser largados. Eu era do time dos largados. Opção. Passava boas horas dos meus dias trepado no telhado da casinha de 3 cômodos em que morávamos na Vila Yara. Via a cidade toda. Prédios – naquele tempo – eram uma raridade em Osasco. Olhar o horizonte enchia-me de entusiasmo. O mesmo entusiasmo que sentia quando ouvia o trem apitando quando passava pela estação Osasco. Ouvia lá na Vila Yara. Entusiasmo das coisas primeiras, será que me entende? O Pico do Jaraguá compunha o cenário ao fundo. Observava o sol nascendo, se pondo. Estrelas despontando, a lua minguando, enchendo, crescendo. Achava que a fila de carros com as suas luzinhas na Castello, ao final da tarde, fosse uma procissão de formigas. Formigas em plena movimentação – no vaivém da existência. A procissão dentro dos meus olhos de criança. Pequenos e grandes silêncios me fascinavam. Mais tarde, descobri que os silêncios têm um poder de nos conservar intactos às gasturas da vida. Do telhado da minha casinha, tudo parecia altaneiro. O ato em si de olhar as coisas do alto gerava em mim uma sensação indescritível, a qual sinto até hoje. Sabia que os silêncios gostavam de me conversar. Eles sempre me explicaram tudo desde os tempos mais remotos. Hoje a vida é mil vezes mais veloz, porém dentro de mim ela segue no mesmo balanço vagaroso das carroças com suas rodas cambaias.
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