ESN: 16675-080201-838850-87
O mais novo esquema de corrupção divulgado ontem (09/03), na cidade de Santa Isabel –SP – é o retrato claro e cristalino de uma classe política recheada de podridão, descaso e más intenções.
Num país onde a burocracia é construída de forma a facilitar a vida do fraudador e do corrupto; e um pedaço de papel carimbado (tem que ter um carimbo qualquer) vale mais do que a constatação visual e flagrante de um ilícito. Esses golpes são a conseqüência imediata desse favorecimento às fraudes e ao desvio de verbas.
Notas fiscais claramente frias e de empresas que todos sabem inexistirem ou serem incapazes de movimentarem os valores e quantidades expressos ali, são apresentadas como garantia de operações milionárias e plenamente aceitas como se refletissem a mais límpida verdade. Como no caso Renan Calheiros, onde um pequeno açougue do interior emitia notas de compra para dezenas de toneladas de carne das fazendas do senador.
Alunos fantasmas, matriculados apenas no papel e sem nunca terem existido, “comparecem” as aulas diariamente e são responsáveis por injetar milhões de reais diretamente nos bolsos de prefeitos e secretários corruptos. A fraude é tão gritante e mal feita, que em algumas cidades, o número de alunos informado faz com que a população fique acima do apurado pelo IBGE. E, mesmo assim, o governo repassa verbas. Pois os “alunos” estão “matriculados e comparecendo” as aulas. É o que diz o “papel”.
Nesse caso de Santa Isabel, era ainda pior. Os corruptos reclamavam que o roubo era tão grande que funcionários subalternos roubaram dois milhões e meio de reais sem que eles percebessem. Desta forma, foram “lesados” e deixaram de embolsar uma gorda “graninha”.
É inacreditável que tal nível de roubalheira escape impune aos controles e aos sistemas de acompanhamento do governo federal. A checagem de dados não deve ater-se apenas ao “papel”. Deve haver vistorias e levantamentos populacionais. Por exemplo, se uma cidade diz que tem “x” alunos e esse número supera sua população informada pelo IBGE; os valores devem ser suspensos automaticamente, e efetuada uma auditoria rigorosa no local.
Um cuidado simples e básico, que evitaria bilhões em desvios de verba. Mas, infelizmente, nossos administradores parecem trogloditas bitolados que vivem na ignorância e ainda regurgitam nas cavernas. Esquecem-se dos meios eletrônicos e de que dados estatísticos servem para serem usados.
O que aconteceu em Santa Isabel e em Magé no Rio de Janeiro, acontece diariamente em milhares de cidades por esse Brasil a fora. Corruptos e inescrupulosos alguns políticos usam o sistema burocrático e arcaico como assistente e cúmplice de seus roubos descarados. A modernização de mentalidades e procedimentos se faz urgente e necessária. Só assim, problemas como esses seriam rapidamente detectados e combatidos.
Contudo, infelizmente parece que a máxima: “Ladrão que rouba ladrão; tem cem anos de perdão”, é usada e aplicada à risca. Afinal, a vontade política de resolver ou, pelo menos, dificultar a questão do desvio de verbas parece estar sempre relegada a um segundo plano. Talvez, quem sabe, porque o fiscal de hoje; anseie ser o gatuno de amanhã.
****************************************
Texto originalmente escrito em: Visão Panorâmica
ESN: 16675-080201-838850-87
É proibida a reprodução do todo em de parte sem a expressa autorização do autor.