Operação Txokrãn do Ibama coíbe pesca ilegal no rio Xingu

As operações no rio Xingu, no entorno da terra indígena, acontecerão com regularidade.

Buscando coibir a caça e a pesca ilegal dentro da terra indígena Kapoto-Jarinã, no extremo norte do Mato Grosso, o Ibama deflagrou no último fim de semana a operação Txokrãn, alusão à fruta da região, berço da etnia Juruna.

Com apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Polícia Federal, o Ibama autuou oito pescadores pegos em flagrante em área proibida, que pagarão multa de R$ 1 mil cada um e serão denunciados ao Ministério Público Federal por crime ambiental. Os agentes ambientais federais apreenderam 11 barcos, 11 motores e embargou uma pousada. A autuação prevê multa de R$ 450 mil.

Desde 2009, quando recebeu da Funai e das comunidades indígenas as primeiras denúncias de caça e pesca ilegal no local, o Ibama fez missões de reconhecimento na região. A partir de então, a operação passou a fazer parte do Programa Nacional Anual de Proteção Ambiental (PNAPA).

As pousadas situadas ao lado da terra indígena vendem em seus pacotes a possibilidade de o cliente usufruir de todos os benefícios naturais do lugar, o que é ilegal, pois, de um lado do rio, está a terra indígena e, de outro, o Parque Nacional do Xingu, ambos com entrada proibida.

Segundo o superintendente do Ibama em Mato Grosso, Ramiro Martins Costa, é preciso chamar a atenção das autoridades para a necessidade de se melhor regulamentar a exploração comercial do entorno da terra indígena Kapoto-Jarinã. “Vamos gerar um relatório e entregá-lo ao presidente do Ibama, mostrando a importância que essas comunidades têm para a conservação do meio ambiente e a pressão que esse meio vem sofrendo”, informou. Ainda nas palavras de Martins Costa, existe estudo para a criação de uma terra indígena exatamente na região onde estão as pousadas, local em que nasceu o cacique Raoni, lugar histórico das etnias indígenas Juruna e Caiapó.

Na avaliação do Ibama, o resultado da operação foi excelente. Foi possível estreitar os laços entre as comunidades indígenas da área, que são os verdadeiros guardiões da floresta, e a superintendência do Ibama no Mato Grosso. Lideranças como os caciques Raoni, Megaron, e Dedjai estão extremamente satisfeitas com a atuação do Ibama e confiantes no Estado Brasileiro.

Segundo o representante da Funai na operação, Henrique Klocker de Camargo, os limites devem ser respeitados. A pesca não é uma atividade proibida mas é necessário que ela seja feita fora das áreas indígenas, pois os índios não fazem pesca esportiva, fazem pesca de subsistência. De acordo com índios entrevistados, a presença do homem branco em sua terra não é bem vista.

O homem branco, segundo eles, polui o rio e a floresta, pega o peixe, mata o jacaré, a onça, a anta. “Nosso supermercado é a floresta. Daqui, tiramos o nosso sustento. Se o pescador acabar com o peixe, meus netos e bisnetos vão tirar de onde sua alimentação? Por isso, chamamos o Ibama para que não deixe o branco entrar na terra do índio.”, disse Waiwai, cacique de uma das tribos caiapós.

Na mesma linha, o cacique Apudeká Yudjá, da aldeia Kapot Ninore, disse que, para os indígenas, a presença do Ibama é motivo de muita alegria. Essa operação é muito importante, pois eles vivem um drama ao ver a situação do rio Xingu. “O que vem acontecendo com a presença de pescadores que acabam com nossos peixes nos deixa muito tristes. Queremos a expulsão desses pescadores e o fechamento das pousadas que atraem o homem branco. Sem o rio e sem a floresta, nosso povo não tem condições de viver. Fomos criados na mata e na mata seremos felizes”, justificou.

 

Badaró Ferrari
Ascom/Ibama
fotos: Badaró Ferrari – Ibama

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