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Preferia o trem ao pinga-pinga interminável dos ônibus. Achava que de trem chegava mais rápido. Enquanto a viagem durava naquele sacolejo, gostava de imaginar o que podia estar passando pela cabeça dos passageiros. Isso lhe consumia bons minutos.
Uma senhora, à sua frente, quase que não se aguentava. Ia apoiada na barra de alumínio, carregava uma sacolinha de supermercado e uma bolsa maior, marrom, a qual ela segurava com firmeza rente ao corpo franzino. Reparou que o olho, o direito, da mulher, tremia. Olhar tremido, distante… Cansaço. Embarcara na estação Palmeiras/Barra Funda. Para ser exato, um enxame de gente a empurrou para o interior da guarnição.
Noutro banco, duas meninas, talvez duas irmãs. A menor colocava a cabeça no colo da maior que a examinava. Usavam chinelinhos de dedo e piercing no nariz. A mais nova se agitava. A outra seguia firme a tarefa.
Logo esqueceu as irmãs. Assim que o trem parou na estação Leopoldina. Um rapaz começou a oferecer Halls legítimo. Um legítimo vendedor de Halls legítimo. Deu pra ouvir a voz do maquinista alertando os passageiros para não incentivarem o comércio ilegal. Mas o rapaz tinha habilidade pra vender o seu produto e tornar-se invisível no meio das pessoas. Principalmente, quando os seguranças – de uniformes azuis – passavam em revista à caça de gente como ele.
O trem seguiu e sua imaginação deu uma pausa. Parou pra pensar um pouquinho, mas logo: Estação Presidente Altino, seu destino. Amanhã, se tudo der certo, retoma os olhares novamente.
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