Todos os dias, quando abro a porta da minha casa, dou de cara com um franzino e moreno velhinho de olhar esgazeado. Ele usa um chapéu de veludo marrom, bem puído, uma camisa de manga curta listrada e uma calça de tergal que, de tão surrada, desbotou.
Sim, o velhinho, também parece-me um ser desbotado, ali, sentado, na porta da minha casa, à assistir a rua que passa na tela misteriosa das suas impressões.
O que pensa? O que sente? O que passa? Ninguém sabe ou não quer saber. Nem mesmo o tom da voz dele sei como é. Nunca me importei com isso.
Os outros. Ah, os outros! Somos mesquinhos o suficiente para nos importarmos com os outros.
Sequer sei o nome do velhinho. Passava pelo homem como se fosse um vaso, um poste, um móvel… Qualquer coisa.
Mas hoje foi diferente: quando abri a porta, os olhos do velhinho pularam sobre os meus. Aqueles olhos suplicantes agarraram pelos colarinhos a minha indiferença.
Foi como se o velhinho, aquele velhinho – de olhar esgazeado -, me demovesse dos meus apegos estéreis, das minhas esperanças inúteis, alertando-me sobre a fugacidade da vida.
Depois desse episódio, encarei as minhas fraquezas e mesquinharias, com a decisão de vencê-las.
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