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O povo brasileiro tem umas coisas engraçadas. Ele clama que anseia por mudanças no jeito de fazer política, mas é incapaz de perceber quando os políticos se valem das mesmas velhas táticas para confundi-lo ou enganá-lo.
É engraçado como gritam, batem os pés e protestam dizendo que querem uma “nova ética” e uma maneira limpa e honesta de agir do homem público; mas sucumbem as mais antigas formas de desonestidade e enganação.
As últimas eleições do Rio foram um grande exemplo disso. Passado apenas um dia do pleito, o candidato vitorioso já descumpre promessas e diz claramente que o que falou a campanha inteira era uma mentira. Lógico que, como político calejado na arte do fisiologismo e do jeito antigo de fazer política ele não diz as coisas exatamente assim. Os costumeiros floreios e os famosos “não sabíamos” são usados em profusão numa tentativa de dar veracidade aos mais estapafúrdios absurdos.
No dia seguinte a eleição, Eduardo Paes, já vem a público em sua primeira entrevista e diz com todas as letras que o bilhete único deverá ser subsidiado pela prefeitura. Algo que durante toda a campanha alegava que jamais ocorreria e questionava seu opositor por não ter “experiência” suficiente para tornar isso possível. E o pior; diz que “não sabia” que seria impossível cumprir a promessa sem utilizar os cofres da prefeitura para subsidiar as passagens de ônibus.
Outro ponto importante era o “não loteamento dos cargos”. Essa frase é a preferida de dez entre dez políticos brasileiros e Eduardo Paes, como todos os outros, já declara que está com dificuldades para formar seu secretariado porque os partidos que o apoiaram exigem seu quinhão. As “dificuldades” da crise mundial começam a figurar em seu repertório verbal aqui e ali. E isso, já no primeiro dia…
Seria previsível esperar uma posição assim de alguém que mudou de partido praticamente a cada eleição que disputou. Mas, o povo brasileiro tem fé e acreditou em mais um político “da renovação”. A cidade clamava por uma nova forma de administração e por uma nova linha de idéias e de atuação política. Mas bastou um feriadão de sol, para que quase novecentas mil pessoas preferissem a praia à mudança.
É engraçado caminhar pelas ruas e escutar pessoas falando que ficaram no quiosque “tal” ou naquele “point maneiro” e só descobriram que o candidato que eles desejavam ver na prefeitura perdeu a eleição bem tarde da noite. “Agora vai ser uma droga”. “Vou sair do Rio”. “Vai ser uma politicagem só”. E outras coisas assim podiam ser ouvidas.
Então, sem resistir, entro numa rodinha e pergunto: “Mas se vocês queriam que o outro ganhasse, porque não foram votar?”
Muito sério; um dos jovens me olha e diz: “Tava o maior solzão!”
Pois é; o povo brasileiro é engraçado…
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O POVO, OS POLÍTICOS E AS COISAS ENGRAÇADAS.
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