Conta-se que um samurai, grande e forte, conhecido pela sua índole violenta, foi procurar um sábio monge em busca de respostas para as dúvidas que tinha.
– Monge, disse o samurai com desejo sincero de aprender, ensina-me sobre o céu e o inferno. O monge, de pequena estatura e muito franzino, olhou para o bravo guerreiro e disse:
– Eu não poderia ensinar-lhe coisa alguma, você está imundo. Seu mau cheiro é insuportável. E com um olhar de desprezo, acrescentou:
– Ademais, a lâmina da sua espada está enferrujada. Você é uma vergonha para a sua classe. O samurai ficou enfurecido. O sangue lhe subiu ao rosto e ele não conseguiu dizer nenhuma palavra, tamanha era sua raiva. Empunhou a espada, ergueu-a sobre a cabeça e se preparou para decapitar o monge.
– “Aí começa o inferno”, disse-lhe então o sábio, mansamente. O samurai ficou imóvel. A sabedoria daquele pequeno homem impressionara o samurai. Afinal, o ancião arriscara a própria vida para lhe ensinar sobre o inferno. O bravo guerreiro abaixou lentamente a espada e agradeceu ao monge pelo valioso ensinamento. E o velho sábio continuou em silêncio. Passado algum tempo, o samurai, já com sua intimidade pacificada, pediu humildemente ao monge que lhe perdoasse o gesto infeliz. Percebendo que seu pedido era sincero, o monge respondeu:
– “Aí começa o céu”.
(Fábula japonesa – fragmento)