Excluí o meu blog durante um autoataque. Enfastiei-me da seara das minhas palavras mal ajambradas, dos meus sentimentos desencontrados. Pra falar a verdade, não suportei tantas idiossincrasias. Que inferno. Achei que os poucos leitores do meu blog não mereciam as minhas tolices travestidas de literatura de quinta categoria. Claro que o blog tinha seguidores: vinte e um. Vinte e uma almas dispensando – caridosamente – olhos e tempo aos meus escritos apressados. No mundo hi-tech quantidade é tudo. Tem gente que gosta de exibir os seus 1843 novos amigos, seus 4 milhões de recados, seus 8 milhões de acessos. Quanto acesso, meu Deus! Isso deve dar a alguém a sensação de magnitude. Um poder aglutinador capaz de influenciar e fazer novos amigos. Algo parecido com a balela propagada pelos defensores do marketing multinível. O fato é que excluí o meu blog em pleno sábado de carnaval, depois duma crise de consciência. Até meados dos anos 1990 vivia um outro tipo de vida. Não possuía conta de e-mail e era feliz. Não possuía banda larga e era feliz. Não frequentava sala de bate-papo e era feliz. Não participava de conferências on-line e era feliz. Não fazia parte do twitter, do facebook, do Orkut e era feliz. Não tinha blog e era feliz. Mais do que isso; eu era o amigo dos meus amigos, com os quais bebericava e festejava a existência. Mas deixei-me ser tragado por essa merda. De figurinha fácil a difícil foi uma questão de tempo. Incorporei a frieza como hábito elementar. Só me comunicava através de mensagens eletrônicas. E foi assim, ano após ano, até conseguir dragar, de vez, a vida real do meu caminho. Tornei-me íntimo dos amigos virtuais, conheci Deus e o mundo, sem nunca – sequer – ter-lhes apertado a mão ou olhado o quanto eram brancas ou amarelas suas respectivas pupilas. De blog em blog tornei-me leitor inveterado de ninharias. Achei que um blog me serviria para me aproximar das pessoas – com os velhos, os novos e os futuros amigos. No começo, a coisa até que funcionou bem. Os blogs quando não são uma quinquilharia realmente têm alguma serventia. Democaratizam ideias, nos dão visibilidade, criam herois fodões, astros inventados no carrossel poderoso da virtualidade. De fato, há um intercâmbio. Cansei-me disso, não sei se para a tristeza ou para o alívio dos meus vinte e um seguidores. Meu blog deixou de existir, às duas e trinta e quatro da tarde de um sábado de carnaval. Porém, depois do surto, a volta. Depois da volta, o primeiro passo. Depois do primeiro passo, prosseguir. Depois… Quem sabe… Lutar para não virar hipótese.
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