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Ontem (sexta-feira 06/12) fui visitar um velho amigo meu que é empresário do ramo de confecção e personalização de uniformes e roupas (Ponto Bordado Uniformes). Nos conhecemos desde 1986 e íamos jantar numa churrascaria para comemorar o fim de um ano bom. Fui a sede da empresa, na Zona Sul do Rio, e lá chegando ele entrevistava um candidato a uma vaga de aprendiz. Um rapaz de vinte e poucos anos que prestaria serviços na área de manipulação de imagens e de silk-screen.
Durante a entrevista, ele descreveu os serviços e informou que o rapaz teria um curso completo de editoração gráfica e de Silk-Screen e que isso inclusive seria muito útil para uma futura profissão caso ele não desejasse continuar na empresa após algum tempo de serviço. Mesmo sabendo que corria esse risco, ele precisava de alguém de confiança (o rapaz era uma indicação de um conhecido) e de alguém que fosse dinâmico e capaz de assumir uma gerência futura daquele ramo da empresa que está em crescimento acelerado.
O rapaz parecia empolgado e meu amigo perguntou-lhe o quanto ele ganhava em seu atual emprego. O candidato a aprendiz vaticinou: “Eu trabalho como entregador de quentinhas de segunda a domingo e ganho R$ 200,00 por mês sem carteira assinada e qualquer benefício. Meu amigo, então, ofereceu-lhe um salário inicial de R$ 453,00; carteira assinada; ajuda alimentação e plano de saúde (além dos benefícios legais). Apenas para o período de experiência e de aprendizado. Sendo aprovado e estando empenhado em desenvolver os trabalho a ele confiados, o salário seria aumentado.
Imaginei que ganhando R$ 200,00 sem direito a um chiclete, o rapaz fosse abraçar meu amigo e dar-lhe um beijo na boca. Ganhar mais do que o dobro (sem se contar os benefícios) para aprender uma excelente profissão e depois ainda ter a chance de ganhar mais e gerenciar um setor de uma empresa em expansão é uma ótima oportunidade para um iniciante inexperiente.
Ele, como eu previra aceitou. Contudo, ao ser informado de que começaria na próxima segunda-feira (já que havia um caráter de urgência) imediatamente contestou meu amigo dizendo que “precisava descansar no natal e viajar com a família”. Numa mostra de paciência sem limites, meu amigo ainda perguntou: “Então em Janeiro você pode começar?”
Mais uma vez o rapaz “empolgado” com a oportunidade disse que viajaria com a família no início de Janeiro e que precisava desse período final de Dezembro para “descansar” de um ano de muito trabalho entregando quentinhas…
Pois é, o rapaz foi embora sorrindo e imaginando que uma empresa esperaria por ele, quase dois meses, para expandir-se e perderia um mês de alto faturamento apenas porque ele precisava viajar com a família. Fiquei imaginando como se desperdiçam oportunidades raras e claras de sucesso apenas por medo ou por pura e simples preguiça. O que seria melhor para um rapaz de vinte anos começando sua vida profissional? Aproveitar os feriados de fim de ano e viajar com a família nas férias de Janeiro e depois trabalhar num subemprego ganhando a metade de um salário mínimo mensal, sem direito a nada, ou aprender uma profissão rentável e ter a chance de gerenciar um departamento de uma empresa e mesmo, futuramente, abrir seu próprio negócio de forma autônoma com o que aprendeu?
A cultura do imediatismo por nossa juventude, a falta de visão de vida e o despreparo intelectual de uma geração perdida serão cobradas pesadamente na forma de uma legião de trabalhadores medíocres e desesperançados que formarão mais cidadãos com a mesma equivocada visão de vida.
Enquanto isso eu imaginava sua surpresa ao ligar em fevereiro e descobrir-se desempregado. Pois meu amigo fez questão de “garantir-lhe” a vaga com um belo aperto de mão.
A vida tem dessas coisas estranhas…
aprendiz, coisas, desperdício, estranhas, oportunidades, perdedores, perder
a
O APRENDIZ, O EMPRESÁRIO, O BLOGUEIRO E AS COISAS ESTRANHAS.
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