Toda desajeitada empurrou o portão. Segurava as sandálias com uma das mãos. Nos lábios ainda os restos da noite e o que sobrou do batom vermelho. A balada foi dose – taqueopariu –, uma dose atrás da outra. Mirou as flores de maio, deu bom dia às plantinhas, velho costume. Nem percebeu que pisara na encomenda deixada pela cadela. Bosta! – falou pra si mesma – mil vezes bosta! – Taqueopariu!! Mesmo assim ainda comoveu-se com a lua que duelava audiência com os primeiros raios de sol. Molemolente, ela abriu a torneira, pegou a mangueira e jateou o pé para tirar aquela merda toda. Seguiu atentamente o cortejo silencioso das formigas. Acocorou-se, cruzou os braços sobre os joelhos enquanto observava a natureza em movimento. Espreguiçou-se, alongou-se, rezou. Porém, a zoeira da balada bombava nos seus ouvidos, a cabeça parecia explodir. Sabia – de cor e salteado – não ser de bom alvitre misturar bebidas. No dia seguinte, é que se sente os dissabores. – Cadê a porra da chave? resmungou. Mexe daqui e dali, encontra desabafos amassados, papéis de balas, bombons, escova de cabelo, batom, creme dental e um lingerie, novinha em folha. Tava lesada, sim. Balada cansa. Fazia tempo que não se sentia daquele jeito. Enferrujara-se nas águas mórbidas de uma vida parasitária. As chaves. Cadê as chaves? Começou a rir de si mesma. Ficou feliz. Havia anos não sabia o que era sorrir. Dormiu ali mesmo, sentada à porta, do lado de fora, enquanto as formigas seguiam em sua sina, as formigas.
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