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Muitas vezes tomamos decisões em nossas vidas que, com o passar do tempo, se provam um grande erro. Mesmo tendo a melhor das intenções, podemos pecar por nossa arrogância, nossa empáfia e por nos acharmos os “donos da verdade”. Afinal, somos humanos e como tal, sujeitos a imperfeições de caráter.
Lembram-se do Bispo que fez duas greves de fome contra a transposição das águas do Rio São Francisco? Pois é, ele mesmo o Bispo Dom Cappio. Sua decisão foi equivocada e impensada. Pois tentava imprimir no Estado o poder que a Igreja ainda teima em querer manter, e fazer com que um projeto que ajudaria a milhares (ou milhões) de sertanejos fosse simplesmente engavetado.
E, aproveitando as comemorações tradicionais da Semana Santa; mais especificamente no Sábado de Aleluia onde se costuma “malhar um Judas”, Dom Cappio foi eleito por grande margem de votos para ter a “honra” de ser o Judas da cidade de Crato no Ceará.
Sua Eminência concorreu com figuras da maior importância como Hitler, George W. Bush, Fernandinho Beira-Mar, um estuprador local (sem nome), o salário mínimo e os “cartões corporativos”.
Mas, graças à intervenção da Igreja local, o Bispo foi “salvo” da execração pública e da chuva de pancadas que “receberia” hoje (22/03). Um padre local disse que o Bispo não é um “Judas”; mas sim um homem de muitas qualidades.
Pode até ser que sim. Contudo, explicar ao morador (sobrevivente) do semi-árido nordestino que uma pessoa, vivendo na fartura, é contra um projeto que pode levar água em abundância para sua garganta ressequida pelo sol inclemente não é uma tarefa fácil. Além disso, a Igreja, assim como políticos locais vêm se beneficiando a séculos da miséria e do flagelo da seca. Impedir que um projeto vital como esse se instale, é advogar contra o ser humano sofredor e sem perspectivas; que necessita abandonar o local onde mora para não morrer de sede e de fome.
Se há alternativas viáveis ao projeto de transposição, por que a Igreja não as apresenta? Por que os vastos recursos do Vaticano não se prestam a estudar o caso e propor uma solução? É muito fácil criticar por criticar. Apresentar uma alternativa razoável é o difícil.
O grande erro do Bispo foi não se apoiar em estudos. Encampar uma idéia apenas pelo “achismo” e por informações de segunda mão. A parte do São Francisco que será desviada, corresponde a um por cento do volume de água. Por que ao invés de lutar contra o sertanejo, ele não luta contra os fazendeiros que eliminam a mata ciliar do rio? Por que não luta contra as indústrias que o poluem e nem contra as cidades que despejam esgoto sem tratamento nele? Simples; porque isso não dá mídia.
O povo sofrido do semi-árido pode ser tudo, menos bobo. E acertadamente escolheu seu “Judas” pelo que verdadeiramente ele é para eles: Um traidor.
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Texto originalmente escrito em: Visão Panorâmica
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