Naquela manhã, Ilka estava com os batimentos cardíacos a milhão. Mas por quê? Cada um tem os seus motivos. Ilka tinha os dela. Mulher comum: mãe, esposa, filha, nora, trabalhadora. Denominou tal fato como adrenalina. A palavra saltava-lhe dos lábios sem reflexão nenhuma. Não gostava de se sentir assim. Ilka pediu um táxi, antes, porém, disse que precisava se tratar. O marido ouviu com desdém o chororô da esposa, os filhos sequer a ouviram. O motorista tocou pro shopping. O consultório devia de ser lá. Sentia-se sufocada dentro do automóvel. No rádio, as notícias a angustiavam mais ainda: Dilma, Serra, Neymar e Ganso, o goleiro assassino. Quanta porcaria! O trânsito estava lento. Motoristas mal-educados buzinavam no túnel. Motoboys surgiam do nada. O shopping não chegava nunca. Ilka precisava desanuviar a alma, precisava de um respiro. Só depois de uma hora e quarenta e cinco minutos, ela chegou ao shopping onde se trataria. Começou o tratamento por uma loja de sapatos, depois presenteou-se com um par de brincos folheado em ouro, um vestido verde de cetim, um sorvete daqueles cremosos com gosto de nada. Adquiriu ainda umas revistas de fofocas, observava as fotos das celebridades enquanto tomava – sozinha – o seu capuccino, com bastante açúcar. Ilka, respirou fundo e disse pra si mesma: “Por hoje sinto-me curada”.