Quais as lições que surgem com a crise na Polícia Militar do Rio de Janeiro?
A primeira delas, é que nosso povo entende muito pouco de uma instituição que, mal ou bem, cuida da segurança de cada um de nós. Isso ficou claro no episódio da exoneração do corregedor. Após divulgação, em seu blog pessoal, de opiniões próprias na questão dos baixos salários e a corrupção.
Para muitos e para alguns órgãos da imprensa, a exoneração foi um ato arbitrário. Mas, para quem tem um mínimo de conhecimento na área militar, sabe que o coronel cometeu um delito disciplinar. Militares ou membros das forças auxiliares (Bombeiros e Polícia), são impedidos pelo código disciplinar de tecer opiniões públicas sobre a corporação e a administração. Ao fazê-lo, o coronel sabia das conseqüências. Mas como homem honrado, não podia furtar-se a falar o que é óbvio para qualquer cidadão.
A outra lição é mais “pesada” e perigosa. Para um militar, especialmente para um que exerça posto de comando, é necessário que a tropa o respeite e que veja nele um exemplo a ser seguido. Assim, suas ordens são acatadas sem questionamento e sem indisciplina. O menos graduado sabe que se depender de seu superior, ele estará amparado e obterá apoio no que necessitar.
Em referência a segunda lição, hoje existe uma enorme incógnita. Pois o atual comandante da PM carioca era um dos líderes do movimento reivindicatório. Cometeu os mesmos atos de indisciplina que seus companheiros. E, o maior agravante: Assinou um documento pactuando com todos os coronéis envolvidos nos protestos. O pacto era de que TODOS assumiam o compromisso de não aceitarem a indicação para a chefia da PM; no caso de uma exoneração devido aos protestos.
As razões que o levaram a romper o pacto e a aceitar a indicação; ninguém saberá. Afinal, foi uma decisão de foro íntimo. No entanto, resta-nos saber como essa decisão nos afetará como cidadãos. Afinal, ao faltar com sua palavra, ele colocou em xeque sua própria honra e sua capacidade de liderar a tropa.
Como a tropa o respeitará se, mesmo assinando um compromisso, ele “teoricamente” rasgou o pacto e “vendeu-se” as benesses do cargo? Como o soldado que empunha seu fuzil e sobre uma favela, poderá confiar num superior que traiu seus iguais? Se tal fato não ocorreu, o coronel deverá apresentar suas justificativas; e que sejam convincentes. Caso contrário, sua situação e posição de comando ficarão ameaçadas.
Num meio onde a morte e o desamparo espreitam a cada esquina e o inimigo esconde-se em toda parte, o policial hoje, conta apenas com os seus. Se dentro de suas próprias fileiras ele não pode confiar plenamente na palavra de um superior, como terá a serenidade necessária para cumprir o seu dever nas ruas?
De todos os “tiros no pé” dados pelos políticos do meu estado; este seguramente foi o maior. Desde que assumiu o cargo, Sérgio Cabral contava com a boa vontade e com a paciência das polícias cariocas. Agora, ao invés de mostrar autoridade; mostra apenas que nada conhece do assunto. Punir os que infligiram a disciplina militar era necessário, caso contrário, podia perder o comando da tropa. Mas a implementação das punições e a convocação de um dos líderes do movimento para assumir o cargo, sabendo da existência do documento, representou o auge da inexperiência e do desconhecimento da mente militar.
Queira Deus que a tropa se aquiete e que as coisas sigam seus rumos; afinal, os policiais também são brasileiros e oriundos de nossa sociedade permissiva e de difícil mobilização. Mas, se houver nessas fileiras um líder realmente carismático… Cabral terá assinado sua sentença de morte em matéria de liderança e respeito.
Afinal, como vovô dizia: “Para três coisas não há remédio: A morte, a ofensa dita e a palavra empenhada”.
E você leitor, o que acha?
*
*
*
*
*
Nota do Editor:
Dê valor a quem cria!
É proibida a reprodução desta obra no todo ou em parte, salvo expressa autorização do autor.
Post Original do Blog: Visão Panorâmica