Esse sou eu!

Se o touro tem uma ambição, é a de que o deixem sossegado onde está. Como, em geral, ele vai estar sempre bem instalado, cercado de belos móveis, boa comida e bebida de primeira, não há porque estranhar sua tendência ao imobilismo. Ninguém pratica melhor do que ele o velho ditado “mais vale um pássaro na mão que dois voando”: enquanto o ariano se entedia se não está correndo atrás de uma causa (quanto mais perdida, melhor), o taurino se desespera se tem que alterar sua velha e boa rotina. Nada mais natural para um signo regido pela mais preguiçosa das deusas, Vênus. E a preguiça, ao contrário do que se diz, é uma admirável virtude: sem ela não seria possível relaxar e aproveitar as férias, relaxar e beber um bom conhaque, relaxar durante aquela maravilhosa massagem do seu japonês preferido, a até mesmo relaxar e sair da sala para tomar um cafezinho enquanto o chefe espuma e berra porque o trabalho não ficou pronto a tempo. Afinal, o mau humor do chefe vai passar, e o mundo continua ali, no mesmo lugar. Com seu modesto pragmatismo, o touro enfrenta as maiores crises sem chamuscar uma lasca de chifre. A vida, para ele, é simples e clara, e deve apenas ser bem vivida.

A notoriedade não o seduz: ele sabe que a fama não põe a mesa, e prefere os bastidores bem remunerados a sair em coluna social não tem como pagar o jantar. O poder é muito estressante e cheio de ambigüidades e artifícios, duas palavras que lhe dão alergia. As aventuras dissipam aquela rendazinha extra guardada na poupança, e isso um touro jamais vai suportar. Prudência, estabilidade, segurança material: se você encontrar alguém que prefira investir em imóveis a jogar na Bolsa, comprar ouro em vez de dólares ou trocar uma estadia num hotel cinco estrelas por uma liminária art déco (afinal, gasta-se praticamente o mesmo, mas a luminária dura), então você estará diante de um touro de raça.

Não pense, contudo, que ele só trata de negócios. Sua especialidade é outra: uma sensualidade que só tem paralelo com a do signo oposto, o escorpião. Com a vantagem de que o sensual taurino evita relações perigosas. Para que se meter num caso complicado, se o negócio, afinal, é apenas ser feliz?

DOENÇAS:
Doenças na região do pescoço, garganta, faringe, laringe, ouvidos e vértebras cervicais. A assimilação descontrolada, a desproteção aos órgãos internos e as doenças contagiosas são distúrbios típicos. Elas tornam o taurino possessivo, obstinado nos seus pontos de vista, lento em suas ações e entregue ao comodismo.

TERAPIAS:
Símbolos não são com ele. Cinqüenta minutos de conversa sobre arquétipos só vão causar bocejos. Como o touro é, igualmente, um pacifista nato, tentar persuadi-lo de que não anda bem porque lá na sua infância odiava o pai (já que desejava a mãe e tal), é perda de tempo. Ele vai achar que o maluco é o analista, que nunca viu a senhora em questão e se mete a imaginar um affair entre ela e ele, trinta anos atrás. Amante de respostas sólidas, o touro em crise deve procurar terapias mais de acordo com o seus cinco sentidos. Seis, se considerarmos o bom senso – que ele tem de sobra.

Assim, se o touro quer porque quer freqüentar um consultório, deve procurar um terapeuta bioenergético. Massagear seus pontos de tensão, desfazer os nós de seu pescoço e aplicar óleo aromático em suas costas, sem exigir dele uma só confissão, apenas suspiros satisfeitos, vão produzir milagres. Uma gueixa também produziria bons efeitos, mas elas andam raras. Na falta delas, o taurino ligado na sabedoria oriental pode também experimentar um banho de furô, aqueles tonéis cheios de água quente onde os japoneses adoram se enfiar.

Sempre pode ocorrer que não haja um único terapeuta bioenergético, gueixa ou furô no raio de muitos quilômetros e o touro esteja no auge da angústia. Que fazer, então? Muito simples: cantar. A plenos pulmões! Óperas, baladas, refrões antigos, qualquer gênero de música, debaixo do chuveiro ou no meio da rua.

Outra terapia que produz alívio imediato é correr para a próxima doceria e devorar doze quindins. A contra-indicação é meio óbvia – se a crise durar um mês, o touro sai curado, mas com quatro quilos a mais. Por isso a única receita infalível para sair da crise, sem seqüelas, é lançar mão do talão de cheques, parar na loja mais chique da cidade e comprar aquela roupa estonteante. O toque novo do tecido (seda, linho, algodão puro) sobre a pele do touro é ainda mais terapêutico que os mais hábeis dedos do melhor massagista.

Textos de Marília Pacheco Fiorillo e Marylou Simonsen, publicados no livro Use e Abuse do seu Signo, editado pela LP&M.

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