Escola especial de Osasco oferece curso de Fotografia

732 - Aloisio Mauricio (1)“Fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração”. A célebre frase do renomado fotógrafo francês, Henri Cartier-Bresson, traduz sensivelmente a experiência de 19 jovens estudantes da Oficina de Fotografia do Ponto de Cultura da APM (Associação de Pais e Mestres) da EMEE Dr. Edmundo C. Burjato, no Jardim Cipava.

Os jovens encerraram na terça-feira, 11 de dezembro, a oficina e assistiram à apresentação do documentário “De dentro para fora e de fora para dentro”, uma seleção de imagens fotográficas e depoimentos dos próprios oficineiros e estudantes sobre as sensações, sentimentos e emoções vividas durante o aprendizado.

De acordo com Ana Cecília Cioffi, que trabalha na escola especial desde 1995 e é responsável pela parte operacional e administrativa do Ponto de Cultura, é notória a transformação no olhar de cada jovem face ao projeto que visa possibilitar a inclusão social. “As fotos foram meios de mergulharmos na vida de cada um de uma maneira que mesmo conhecendo-os há 20 anos passamos a conhecê-los de modo único e especial”, destaca.

“Pessoas sem deficiência participam das oficinas com os deficientes porque acreditam nos projetos. Atendemos muitos familiares e idosos. Já chegamos a registrar em torno de 150 pessoas no Ponto de Cultura. Este é o número rotativo e flutuante, mas que pode ultrapassar 200 se pensarmos em todas as oficinas que oferecemos ao longo do ano”, assim destaca a jornalista Fátima Rodrigues, gerente do Ponto de Cultura.

O documentário exibido propôs que jovens, que possuem deficiências mentais, familiares, professores, coordenadores, diretores, oficineiros, representantes da APM e os próprios participantes da oficina tivessem contato com os registros fotográficos fora do universo escolar – já que os estudantes foram autorizados a levar as máquinas fotográficas às quintas-feiras para casa -, captando a dinâmica familiar e social dos jovens e reconhecendo na fotografia o elo de reintegração entre emoção, arte, cultura e sociedade.

Para a oficineira e fotógrafa profissional, Camila Macedo, é difícil descrever o turbilhão de sensações e sentimentos. “Por meio da fotografia vimos um mundo se revelando nas lentes. A vida contada muito detalhadamente e quando sugerimos que levassem os equipamentos tornou-se uma obrigação, porque eles cobravam em todas as oficinas que emprestássemos o material para que eles pudessem nos apresentar suas vidas e histórias. Todas as máquinas voltaram em perfeito estado, nossa confiança foi mantida e, sobretudo, os alunos retornaram com belas histórias registradas”, explica.

Ela ainda confidenciou que a ideia surgiu de Edralf Rodrigues de Souza, de 23 anos, estudante da oficina de fotografia, que gostaria de fotografar seu pai fazendo e vendendo pamonhas. “Fomos entrando na dinâmica familiar e percebendo os espaços que cada um ocupa na sua casa. Vimos como criam a ideia de pertencimento e como reconhecem familiares, vizinhos, amigos e a si mesmos. Através de imagens trazidas pelos participantes pudemos compreender melhor seus olhares e percepções sobre a vida e até mesmo o mundo”, completa, acompanhada do oficineiro e colega fotógrafo Fábio Rupia.

O jovem Edralf conta como a Oficina mudou sua forma de interagir. “Levei a câmera para a minha mãe ver como eu estava tirando fotos bem. Gostei muito de tirar fotos. Meu pai ficou feliz de me ver com a máquina fotográfica. Ele descasca e rala o milho e eu faço curau. Ele faz e vende pamonha. Gosto de fotografar pessoas, gosto do olhar”, revela, em meio a uma sala montada especialmente dentro da escola com a exposição fotográfica produzida pelos jovens.

O amigo Deivede Oliveira, de 30 anos, morador do Jardim Belmonte, também se sentiu realizado com a experiência. “Mudou o mundo. Fiz inscrição e conheci muita gente. Tirei foto com a minha mãe e meu irmão Gabriel. A foto traz muita recordação, o carinho da minha família e diz sobre o lugar onde moro”, explica.

As ações do Ponto de Cultura não se restringiram à oficina fotográfica. Entre os dias 3 e 4 de dezembro foi promovida também a 2ª Mostra de Arte “Magia e Alegria”, que contou com apresentações de dança, como forma de integração e expressão corporal e esquetes com os alunos da oficina teatral. O evento aconteceu no Espaço Cultural Grande Otelo, na Vila Campesina.

Desde 2010, o Ponto de Cultura da APM oferece quatro oficinas inclusivas: Fotografia, Informática, Dança e Teatro. A escola está localizada na rua Thomaz Antonio Gonzaga, 310, no Jardim Cipava, e recebe inscrições durante todo o ano com a participação aberta à comunidade, inclusive já tendo recebido professores e gestores de outras cidades interessados nos projetos de sucesso desenvolvidos por seus idealizadores. As oficinas acontecem durante todo o ano, os estudantes podem começar as oficinas no mesmo dia e a idade mínima para participação é de 14 anos. As turmas têm capacidade para cerca de 20 estudantes por turno, distribuídos em dois períodos, manhã e tarde. As aulas duram entre 1h30 e 2 horas.

Para a diretora de ensino, Maria de Lourdes Neves, o projeto foi espetacular. “Parabenizo todos os envolvidos no projeto ‘De dentro para fora e de fora para dentro’, por nos permitir ver a alma de vocês, pois dizem que os olhos são o espelho da alma.” Ela também citou o poeta Fernando Pessoa para fazer a reflexão. “Não sou nada e nunca terei nada, mas dentro de mim tenho todos os sonhos do mundo. Acreditem sempre nos seus sonhos”, encerra.

O grande apelo, no entanto, é para atrair investimentos que possibilitem pagar os oficineiros. “Estamos atrás de parcerias e queremos patrocínio para custearmos projetos mais audaciosos que permitam a inclusão total destes jovens. Não temos, por exemplo, máquinas fotográficas para todos e temos um trabalho rico e inédito no país. Os deficientes levam as máquinas para suas casas, produzem as imagens e relatam seus sentimentos em fotos. Gostaríamos, por exemplo, de escrever um livro, publicar as fotos dos estudantes, propiciar pesquisas acadêmicas e beneficiar socialmente os jovens”, conta Cioffi. “Não precisamos de suporte material, precisamos apenas de parceiros que arquem com pagamentos de oficineiros, que são nossos tesouros. Eles são voluntários, profissionais autônomos, e que investem seus sonhos nos jovens porque acreditam em ideias e nos projetos desenvolvidos”, resume Fátima.

Para ajudar o Ponto de Cultura da APM da EMEE Dr. Edmundo C. Burjato basta ligar para o telefone 3651-8724 ou enviar e-mail para pontodeculturaburjato@hotmail.com.

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