Qual o preço do título de campeão brasileiro de futebol?
Nenhum. É o campeonato mais importante do país, um dos mais disputados do mundo e passaporte de luxo para a Taça Libertadores da América. Jogadores são contratados aos baldes e qualquer grande investimento é tratado como necessário. Porém, o retorno nem sempre é satisfatório.
Lembre-se de 1995, ano do centenário do Flamengo. O clube carioca investiu pesado e montou o chamado “ataque dos sonhos”: Sávio, Romário e Edmundo, todos em grande fase. No entanto, a vaidade impediu que ocorresse o devido entrosamento entre as estrelas. Sávio não queria peder a 11. Romário não queria dividir seu brilho com ninguém. E o Edmudo, bem, já era o Edmundo.
Há poucos anos os jogadores do Real Madrid ganharam o apelido de galácticos. Não era por menos, o clube merengue contava com David Beckham, Zidane, Raúl, Roberto Carlos, Ronaldo… Só esses cinco pagavam a folha mensal de metade dos times do Campeonato Brasileiro. Mesmo assim, o desempenho em campo foi pífio. Baladeiros e egos inflados viram de longe o Barcelona ganhar a Espanha e a Europa.
Algo semelhante acontece este ano no Brasil. Entre os principais clubes do campeonato brasileiro, o Grêmio é o que menos gasta com salários de jogadores: algo em torno R$1 milhão por mês, segundo o jornal Zero Hora.
O Internacional, mesmo com as contratações de peso – Andrés D’alessandro, Daniel Carvalho, Gustavo Nery – e jogadores caros – Nilmar, Alex, Guinazu – ainda gasta menos que o Palmeiras. Motivo: só cinco jogadores – Alex Mineiro, Marcos, Valdivia, Denílson e Diego Souza – somam mais de R$1 milhão na folha.
No Santos, somente o 18º colocado, jogadores como Kleber e Fabio Costa, segundo o jornalista Milton Pazzi Jr, tentam viver com R$200 mil mensais cada. Já o atacante Kleber Pereira, R$ 240 mil. Finazzi, centroavante do São Caetano na Série B, recebe R$ 75 mil. E no no Fluminense, desde a primeira rodada na zona do rebaixamento, Washington custa entre R$ 200 e R$ 250 mil a cada 30 dias.
Contudo, ninguém supera Vanderlei Luxemburgo. O vice-presidente do Palmeiras, Gilberto Cipullo, jamais revelou os números. Mas há quem diga que o salário chegue a R$ 500 mil, valor semelhante ao que ele recebia no Santos. Muricy Ramalho, técnico do rival São Paulo, ganha algo próximo dos R$250 mil.
Estranho é ver o salário do gremista Victor, o melhor jogador do Campeonato Brasileiro segundo a revista Placar. O goleiro recebe R$15 mil mensais, um salário modesto para os padrões do futebol brasileiro.
O que isso quer dizer? Nada. Não é gastando pouco ou muito que um time se faz campeão. Pudesse escolher, qualquer dirigente gostaria de ter dinheiro para gastar. Peça de reposição para todos os setores do campo é algo indispensável em campeonatos longos. Mas existe um diferencial. Um talento. Modesto e quase gratuito: saber contratar.
O Grêmio formou um time com atletas chamados de operários no início da temporada. Victor e Réver sairam do Paulista de Jundiaí, Willian Magrão e Rafael Carioca foram descobertos em peneiras e Marcel foi chutado do Cruzeiro. O Grêmio soube usar seu material para formar um inacreditável elenco competitivo.
O Vitória é outro grande exemplo. Mesmo com uma folha mensal longe de ser milionária já esteve na zona da Libertadores e segue na briga pelas primeiras posições. O clube contratou o técnico Wagner Mancini e mesclou a experiência de Ramon (ex-Vasco), Ricardinho (ex-Cruzeiro) e Jackson (ex-Palmeiras) com a juventude de Marquinhos e Willians.
Não se sabe até onde esses times – gastando relativamente pouco – vão. O fato é que a história recente vai comprovando uma velha máxima quase esquecida nos dias de hoje: nem só de dinheiro se faz um grande time de futebol.
Ps. Em homenagem à nação Corinthiana, aparentemente discriminada nesse artigo, álguns números divulgados pelo repórter Carlos Guilherme Ferreira:
O líder da série B gasta R$2,5 milhões por mês. Em 2005, época da parceria com a MSI, eram investidos R$5 milhões mensais no pagamento dos jogadores. O maior salário era o de Tevez: R$380 mês.
Hoje, o funcionário mais caro do clube está fora das quatro linhas. Mano Menezes recebe todo dia cinco a bagatela de R$250 mil.