Crianças com déficit de aprendizagem descobrem brincando a alegria de ler

maestro-blasco ONG de Osasco faz com que muitas crianças tenham um futuro menos incerto.

O programa Bolsa-Família acertou quando condicionou o benefício à manutenção da criança na escola, até a 8ª série, mas isso não equacionou o problema de muitas crianças com dificuldade de aprendizagem. Pelo menos é o que se vê na rede municipal de ensino de Osasco. A própria secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar Almeida e Silva, comentou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em março deste ano, que o fato da criança estar dentro da escola já é uma grande garantia, mas isso não se resolve a questão da evasão escolar. “É preciso uma malha de ações sociais”, afirmou.
Dentro desse espírito foi que uma ONG da zona sul de Osasco, o Instituto Vivereh, resolveu aproveitar sua experiência com programas de apoio a famílias da região para lançar em junho o projeto Oficina de Palavras, que lida preferencialmente com crianças com dificuldade para aprender a ler e a escrever. “Nosso projeto propõe uma nova construção nas práticas da leitura e da escrita”, explicou a coordenadora do projeto, Giovana Micheli. Ela informou que a iniciativa é uma das várias contempladas pelo CMDCA via FUNCAD (Fundo Municipal da Criança e Adolescente), mediante doação direcionada pela empresa Belgo Bekaert Arames. “Nosso objetivo, curto e direto, é fomentar e estimular a leitura e a literatura visando a emancipação das crianças, fortalecendo com isso o seu desempenho escolar e social”.
Mas para aqueles que possam pensar que se trata de mais uma modalidade de reforço escolar, Giovana vai logo avisando que de pedante o projeto não tem nada. “As crianças chegam com caderno, estojo, essas coisas, e a primeira coisa que a gente faz é colocar tudo de lado e começar as brincadeiras”. Fonoaudióloga especializada em distúrbio de aprendizagem, ela sabe na prática que tem algumas barreiras que só podem ser vencidas através de atividades lúdicas.
coordenadora-do-projeto-giovana-micheliAlém disso, o projeto conta com uma equipe nota 10. São profissionais de várias áreas, como a pedagoga Déborah Luchinni, a psicólogoa Carla Ungaretti Jaroseski e o professor de Educação Física, Denis Domingos da Silva. E no final das oficinas, todos precisam conter a emoção diante do testemunho das mães e de seus filhos. É comum ouvirem depoimentos tipo “ele não sabia juntar as palavras, agora quer ler tudo que vê pela frente: placas, ônibus e faixas de aviso”, como este de Gilmara Mariano, a mãe do pequeno Daniel, de 10 anos de idade, que passou para a 5ª série e nem sabia ler. “Eu ficava com medo até de ir pra outra escola, mas agora acho que me garanto”, avisou Daniel, não disfarçando o orgulho de agora mover-se sozinho pelo mundo das letras.
São ações como essa “oficina” que precisam compor “a malha social” que fará diferença na vida de nossas crianças. O Bolsa-Família reduziu a evasão escolar para 5%, forçando os alunos ficarem na escola até que concluam a 8ª série, no entanto, ao estabelecer 15 anos como limite para o pagamento, muitas famílias quando perdem o direito ao auxílio infelizmente contribuem para que a evasão dispare para os quase 20% registrado pelo IBGE. Ou seja, são quase 2 milhões de jovens que ficam sem escola, sem trabalho e sem futuro.
A partir desta semana, o Instituto Vivereh vai disponibilizar no YOU TUBE um vídeo com a experiência do projeto Oficina de Palavras. Vale a pena conferir!

DESABAFOS E ESPERANÇAS – Experiências como essa do Vivereh vão ao encontro ao clamor dos professores, como este publicado no site www.diariodoprofessor.com, por Declev Dib-Ferreira: “Tento dar aulas para o 6º e 7º anos – antigas 5as e 6as séries. Posso dizer com certeza, que mais cerca de 90% dos meus alunos não sabem ler e escrever decentemente; não sabem ler e entender o que lêem; não conseguem escrever uma simples redação coerente, com início, meio e fim; não sabem nem mesmo buscar as informações. A primeira pergunta que fazem ao passar um exercício para eles é ‘professor, em qual página?’. E copiam tudo, sem mesmo saber o que escrevem”.
Este desabado da professora Declev é definitivo, mas para não nos limitarmos ao problema restam as impressões do poeta Rubem Alves, comentando o momento em que “a ficha cai” e a gente que está lendo:
“Tudo começa quando a criança fica fascinada com as coisas maravilhosas que moram dentro do livro. Não são as letras, as sílabas e as palavras que fascinam. É a história. A aprendizagem da leitura começa antes da aprendizagem das letras: quando alguém lê e a criança escuta com prazer. A criança volta-se para aqueles sinais misteriosos chamados letras. Deseja decifrá-los, compreendê-los – porque eles são a chave que abre o mundo das delícias que moram no livro! Deseja autonomia: ser capaz de chegar ao prazer do texto sem precisar da mediação da pessoa que o está a ler.
Roland Barthes faz uso de uma linda metáfora poética para descrever o que ele desejava fazer, como professor: maternagem – continuar a fazer aquilo que a mãe faz. É isso mesmo: na escola, o professor deverá continuar o processo de leitura afetuosa. Ele lê: a criança ouve, extasiada! Seduzida, ela pedirá: Por favor, ensine-me! Eu quero poder entrar no livro por minha própria conta…”.

Mais informações diretamente no Instituto Vivereh pelos telefones 3609-6981 e 9712-3620 (Marcos Miguel) ou no site www.vivereh.org.br.

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