Sentada num banco grená e frio, observava o espetáculo da existência. Céu e chão uniam nuvens e neves. Vestia touca e sobretudo pretos e um cachecol da mesma cor do banco da praça. O que pensava, vai saber! Talvez estivesse em meio a uma conversa íntima com os seus vulcões em erupção, talvez não. Ouvia o pipilar dos pássaros. Sempre gostou desses bichinhos, a existência deles torna a vida menos pesada. Afinal, estão em qualquer parte do mundo a nos presentear com os seus encantos gratuitos. Quieta, a mulher esvaziava de profundidade os seus pensamentos. Naquele momento, deixava-os vagabundos vasculhando os mistérios da alma. Ao longe ouvia duas pessoas tagarelando, mas logo as esquecia como quem se esquece de si mesmo. Esquecimento, eis o maior ensinamento quando se está em pleno exercício de contemplação.
…