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Assistimos, nesses últimos dias, a uma execração total da decência; da hombridade e dos direitos do cidadão de bem. Fomos, numa tacada só, atirados a um universo paralelo onde o crime triunfa e os maus podem tudo.
Como um país que parece viver um surto de surrealismo e exacerbação do direito do criminoso, o Brasil entra definitivamente para o rol de lugares no mundo onde o crime compensa. Com a prisão dos primeiros poderosos e detentores de grandes segredos, capazes de levar pessoas, que hoje são tratadas como expoentes da nação, a serem mostradas em sua verdadeira e horrenda face de ladrões; corruptos e aproveitadores. Moveu-se uma verdadeira cruzada das forças criminosas travestidas de instituições do direito, para elevar os criminosos à categoria de cidadãos especiais e elementos intocáveis.
Nem nos Estados Unidos, onde os direitos individuais de seus cidadãos são levados a extremos, já se viu algo como nesses menos de três dias, fez-se em nosso país. A aprovação da lei que impede a busca policial em escritórios de advocacia (mesmo autorizada pela justiça). A possibilidade de manter-se a candidatura de criminosos contumazes com várias condenações de primeiras e segundas instâncias, e que respondem a dezenas ou centenas de processos pelos mais diversos crimes. A absurda criação de um dispositivo legal que transforma as algemas em objeto maldito durante as prisões.
Tais fatos ressaltam não a defesa do “estado de direito” como é tão apregoado pelos Ministros do Supremo e pelos autores das leis que são, em sua maioria, fruto de elementos incluídos nesse rol de processados. Se assim fosse; por que os Nardoni continuam presos se sequer foram julgados ainda? Se todos são inocentes até que se prove em contrário. Vamos, então, liberar todos os vagabundos, assassinos e estupradores que não tiveram a sentença transitada em julgado. É estranho que Gilmar Mendes não tivesse demonstrado a mesma opinião pela defesa do “estado de direito” ao ser roubado na Bahia. O acusado, apesar de não ter antecedentes criminais, ter residência fixa e emprego; ficou preso vários meses até que a notícia vazasse (durante o caso Daniel Dantas) e um “habeas corpus” caísse do céu para ele.
Parece que as algemas, a inocência e os escritórios invioláveis; só existem no caso de se referirem a pessoas de alto pode aquisitivo e que detêm informações que podem prejudicar muitos personagens eminentes da República.
O Brasil hoje é um país onde ser criminoso é ser intocável. Você pode matar, pode roubar, pode corromper e ser corrompido. E, ao ser descoberto, o policial terá que “pedir desculpas” por estar cumprindo o seu dever.
Eles vibram. Clamam que foi uma vitória da democracia e da lei. Mas, fica o gosto rançoso e quase histérico na boca do cidadão de bem que se vê isolado e abandonado pelas instituições que deveriam protegê-lo. Na verdade, ele descobre-se abandonado à própria sorte. Banido num mundo sem lei e sem esperança. E ele se sente um verdadeiro palhaço. Afinal de contas, ele foi honesto e respeitou as leis a vida toda. Se tivesse se corrompido, se tivesse aceitado aquela propina; hoje provavelmente estaria sendo chamado de “vossa excelência” ou de “doutor”. Teria o respeito de autoridades proeminentes e receberia convites intermináveis para festas, eventos e entrevistas. Contudo; ele optou por ser honesto.
E, para ele, restou apenas o consolo de ainda poder viver no circo. O consolo de ainda poder fazer rir, com sua miséria, os poderosos. O consolo de trabalhar dia após dia num picadeiro maldito e infestado de parasitas.
Um picadeiro chamado Brasil.
Pense nisso.
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