O trabalho, que tem o apoio da Agespisa e das universidades federais do Piauí e do Ceará
Depois de demonstrar que é viável a criação da tilápia do Nilo em esgoto doméstico tratado, o engenheiro da Agespisa, Cleto Barata, doutor em Saneamento Ambiental, iniciou uma nova etapa do seu programa de pesquisa e está realizando experimentos com a curimatá. Trata-se de uma espécie nativa com grande aceitação no mercado local.
“É uma pesquisa totalmente nova, considerando a espécie a ser analisada”, explica o engenheiro. “Já houve trabalhos com outros tipos de peixe, inclusive a tilápia do Nilo. Mas não há registro de pesquisa sobre a criação de curimatá em esgoto doméstico tratado”.
O trabalho, que tem o apoio da Agespisa e das universidades federais do Piauí e do Ceará, terá duração de seis meses. Os alevinos utilizados serão doados pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas).
Uma das principais vantagens de utilizar o esgoto doméstico tratado na criação de peixe é a economia com a ração. Com essa técnica, o custo com a alimentação dos peixes cai 70%. “A água do esgoto é rica em nutrientes, que fertilizam a água e provocam o crescimento do fitoplâncton, que é o alimento natural dos peixes”, explica o pesquisador.
Em termos práticos, o resultado da pesquisa pode ser útil de diversas formas. A técnica pode ser usada, por exemplo, por pequenos produtores de comunidades carentes, considerando o baixo custo da produção. É possível ainda cultivar peixes para a produção de ração destinada à piscicultura convencional.
Caso esse método de criação de peixes venha a ser usado em larga escala, no futuro, também haverá redução da quantidade de esgoto lançada nos mananciais, o que representa uma forma de proteção ao meio ambiente.
Responsabilidade socioambiental
Iniciada em dezembro de 2009, como parte da tese de doutorado do engenheiro Cleto Barata, a pesquisa será aprofundada para estabelecer critérios e processos que mantenham a segurança desse tipo de cultivo. “Isso é importante porque há riscos de utilização de esgotos na produção de pescado. Essa técnica requer o monitoramento contínuo do ambiente e do produto final”, alerta o pesquisador.
Na primeira fase, os resultados foram considerados muito bons. Todos os testes classificaram os peixes pesquisados como sendo adequados ao consumo, em termos sanitários e microbiológicos. “A pesquisa demonstrou de forma direta a eficiência do sistema de tratamento de esgoto utilizado pela Agespisa. Se o esgoto tratado pode ser utilizado na criação de peixes, então, não vai causar maiores danos ao rio onde está sendo despejado”, argumenta Barata.
Para o presidente da Agespisa, Júlio Arcoverde, a realização da pesquisa ressalta como o aspecto da responsabilidade socioambiental está inserido na gestão da empresa. “Nossa preocupação vai muito além da questão prática de garantir os serviços de água e esgoto. Trabalhamos também em prol do meio ambiente e de causas sociais”, enfatiza.
Os 18 tanques montados para a realização da pesquisa ficam na Estação de Tratamento de Esgoto da Agespisa, localizada no bairro Ininga, zona leste de Teresina.
Reuso de esgoto na piscicultura é secular
Na Índia, a utilização de esgoto tratado na criação de peixes é uma prática que existe há séculos. O estado de Bengala Ocidental é pioneiro, com 279 unidades de produção que somam 4 mil hectares. No local, são produzidas mais de 13 mil toneladas de pescado por ano.
O uso das águas servidas da cidade para alimentar peixes criados em grandes tanques começou nos anos 30 do século 20. Hoje é a base do talvez maior sistema de piscicultura baseada no uso de águas servidas no mundo.
Em Calcutá, metrópole que abriga 14 milhões de habitantes, a piscicultura com águas servidas é fonte de trabalho e renda para um grande número de pessoas. É uma das maiores do mundo no reuso com aquicultura. O peixe criado nesse sistema representa 16% do total comercializado no local.
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