No ano passado, a tragédia com o vôo da TAM em Congonhas, foi a gota d’água da tão desejada “virada” do setor aéreo brasileiro. Como tudo em nosso país, foi necessário que 200 inocentes fossem imolados no altar da incompetência administrativa para que dessem um soco na mesa e o jogo fosse virado.
Cabeças foram cortadas; inquéritos abertos; burocratas entraram em pânico; enfim, um escarcéu dos diabos. De bom, saíram às determinações pra a redução do absurdo tráfego que vinha sobrecarregando o minúsculo Congonhas. Um aeroporto não projetado para receber o volume de vôos que recebe. Pois bem; nossas autoridades acabaram com a farra das Cias. aéreas que mandavam mais que a Infraero e a ANAC. Poder este, é claro, regado a muita propina e a facilidades e benesses mil.
O ministro Jobim gritou e, dando uma de xerife, chutou a diretoria da ANAC. Cortou os vôos de Congonhas deixando o aeroporto quase as moscas. Cansou de dar entrevistas apresentando as soluções óbvias e nunca aplicadas para a situação: Construção da terceira pista de Guarulhos, mais um aeroporto em São Paulo e “otras cositas mas”.
A chiadeira das grandes empresas aéreas foi geral. Mas, pela primeira vez nesse país, parecia ter sido abafada pela morte daquelas duzentas pessoas e pelo clamor popular. Além da clara e óbvia falta de segurança do aeroporto.
Mas, eis que estamos “num país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza”. Que se chama Brasil. E, como tal, o que vale hoje pode não valer tanto amanhã. A mesa que se soca hoje; pode ser a mesma em que se come daqui a alguns meses. E aconteceu…
Seis meses depois da tragédia que abalou e comoveu o país inteiro, as empresas aéreas ganham a briga e conseguem restabelecer a farra de Congonhas. Os planos óbvios e soluções a serem aplicadas? Ficaram só no discurso. Como sempre, o clamor arrefeceu, a notícia esfriou e as mortes foram esquecidas. Então para que gastar uma fortuna? Deixa essa droga para lá.
Na realidade, apesar de toda a “vaselina” que o ministro tentou passar na notícia, de forma que não doesse muito; fica claro que nesse país, as grandes empresas e os interesses econômicos, são sempre considerados antes de qualquer outra coisa. Isso sem contar, é claro, com o chafariz de dinheiro que deve ter brotado em algum lugar e sido canalizado para algum paraíso fiscal. Aos mortos e suas famílias: O pó do esquecimento. Aos que ficam: A fé de que sobreviverão. Ao povo? Bem, ao povo, nada. Afinal, ele se contenta com qualquer coisa.
A grande verdade é que, no Brasil, falta vergonha na cara dos administradores. O lema principal das empresas aéreas parece ser: “Manda quem pode e obedece quem tem juízo”.