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Até onde vai o dever da imprensa de ser imparcial e acaba o senso primordial de solidariedade que nos faz humanos?
Até onde devem ir os conceitos de religião, de pátria, de crenças políticas ou de dependência econômica de uma grande empresa de comunicação?
Até onde se pode negar ajuda aos que sofrem em nome da imparcialidade jornalística?
Todas essas perguntas podem ser respondidas, em minha humilde opinião, com uma frase: “Em momento algum”.
Um exemplo de como a imparcialidade exacerbada ou do uso covarde dessa premissa jornalística pode ser perniciosa foi-nos mostrado quando o rapper Mv Bill lançou o documentário “Falcão Meninos do Tráfico”.
Durante as filmagens ele teve acesso ao cativeiro de um homem seqüestrado e jamais denunciou a localização ou mencionou tal fato as autoridades. Como resultado a vítima foi assassinada posteriormente. A sua alegação de que a imparcialidade jornalística o impediu de denunciar a localização do cativeiro e de que se o fizesse jamais completaria o documentário; foi uma das coisas mais absurdas que ouvi em toda a minha vida. Afinal de contas, que documentário, reportagem, foto, artigo ou qualquer outra forma de expressão pode valer mais do que uma vida humana?
Esse assunto me veio a mente e causou uma profunda indignação ao ler as matérias enviadas pelo leitor Filipe Soares Assis (Loko na Rede) e que vocês podem ler também aqui na CNN Europa e aqui no Times.
Esses artigos informam que empresas de comunicação (Sky News e BBC) se recusaram a publicarem e divulgarem um pedido para ajuda humanitária as vítimas da guerra entre Israel e o Hamas alegando, pasmem, compromisso com a “imparcialidade” jornalística.
É importante ressaltar que, em nenhum momento, são veiculadas posições pró ou contra Israel ou o Hamas nesse pedido. Tudo o que se deseja é a busca por doações para as vítimas civis da tragédia; que hoje vive em condições totalmente desumanas em Gaza.
A clara posição de repudiar a solidariedade as vítimas nada mais demonstra do que o fato dessas emissoras serem, na verdade, parciais. Já que não se pede apoio político, não se conclama ao povo que se levante em defesa de pontos de vista e, muito menos, se faz apologia a nada; esconder-se por trás de uma desculpa esfarrapada apenas para não se indispor com possíveis patrocinadores israelenses ou com membros de seu próprio governo que apóiem as atrocidades cometidas em Gaza, mostra muito bem que a tão propalada imparcialidade jornalística; vai só até a “página doze”.
A questão humanitária e a ajuda aos que sofrem deve sempre estar acima de qualquer outro dogma, posicionamento ou interesse. A espécie humana apenas conseguiu atingir o seu status de dominância em nosso planeta graças a capacidade de proteger-se mutuamente e de cuidar de seus mais fracos integrantes.
Se esquecermos o nosso principal legado e ignorarmos que, abandonando quem precisa a própria sorte, também corremos o risco de sermos abandonados num futuro próximo; endureceremos nossos corações e transformaremos noções de ética e de moral profissional apenas em desculpas baratas para a desumanidade.
Pense nisso.
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A IMPRENSA, O DEVER, A IMPARCIALIDADE E O VIÉS HUMANITÁRIO.
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