Quando os eruditos descobriram a língua, ela já estava completamente pronta pelo povo. Os eruditos tiveram apenas que proibir o povo de falar errado.
No principio era o verbo. Defectivo, naturalmente.
Como não é machista, sempre que a frase tem maioria de mulheres o autor usa o pronome feminino [comentando a frase: “Ivan Pinheiro Machado, com as editoras Fernanda Veríssimo e JÓ Saldanha tomaram para elas a próprias…”]
Entre o porque e o por quê a mais bobagem gramatical do que sabedoria semântica.
Por quê? É filosofia. Porque é pretensão.
Está bem, lingüista, se dois é ambos, por que três não é trampos?
As palavras nascem saudáveis e livres, crescem vagabundas e elásticas, vivem informes, informais e dinâmicas. Morrem quando contraem o câncer do significado definitivo e são recolhidas ao CTI dos dicionários.
Devemos ser gratos aos portugueses. Se não fossem eles estaríamos até hoje falando tupi-guarani, uma língua que não entendemos.
É evidente que no princípio foi a interjeição, insopitável pelo espanto diante do fogo, do raio. Depois foi o substantivo para designar a pedra e a chuva. E logo o adjetivo, que fazia tanta falta para ofensas. Mas eles continuam insistindo em que no princípio era o verbo.
Que língua, a nossa!
A palavra oxítona é proparoxítona.
Extraído do Livro:
Millôr Definitivo – A bíblia do caos
Porto Alegre: LP&M, 2000, 524 páginas