A comédia da vida, na privada

É tão cômico quanto trágico o que tem acontecido em nosso país de uns tempos para cá. De um lado, um governo que não sabe direito o que quer, para onde vai e como vai, mas vai; do outro, uma oposição, encabeçada por uma mídia sem escrúpulos e por partidos conservadores ávidos por retomar o “seu” trono. E no meio disso tudo o povo, aquele mesmo que sempre paga o pato (inclusive o do Milan, quer dizer, do Berlusconi), o mais desigual dentre “os iguais” (excelente texto do cidadão postado abaixo!) da nossa democracia.

E que democracia! Democracia onde o voto não é um direito, é uma obrigação! Democracia onde todos são livres para ir e vir (quem tem dinheiro para pagar pedágio, ônibus ou avião vai e volta sempre, quem não tem, canta aquela musiquinha do Sílvio, o Santos: “não sei se vou ou se fico, não sei se fico ou se vou…”). Democracia onde todos são livres para escolher o seu futuro, mas só os “mais iguais” podem optar entre ser médico, engenheiro ou advogado (doutô, como se diz por aí); aos “menos iguais” existem as licenciaturas…

Democracia que impõe o vestibular para quem tem sorte e oportunidade de chegar até esta porteira e que, refuta, grita, xinga, esperneia, sapateia e regurgita todo o seu ódio e desprezo por aqueles que buscam sua chance através de um outro mecanismo, mesmo que sejam por cotas de qualquer natureza (afinal de contas, processo de seleção é também processo de exclusão: quem se enquadra no critério está dentro, caso contrário cai fora. Sendo assim, a aberração é o vestibular, não as cotas!).

Democracia onde todos os grandes jornais (impressos e falados) e grande maioria das revistas têm a mesma versão para todos os fatos (aliás, jamais ouviremos alguém dizer “esta é a nossa versão sobre tal fato”, mas sim “essa é a verdade, pois somos uma empresa séria, ética e responsável, pautada pela tradição, moral e bons costumes…”).

Democracia que permite às tais empresas criar uma crise de saúde pública e passar imune por ela, não responder às responsabilidades dos seus atos. Democracia que transforma R$ 8,30 de uma tapioca em CPMI, porque o investigado é o governo federal, mas que não menciona gastos semelhantes em cachaça e doces de um governo estadual. Ou melhor, é capaz de estabelecer diferenças entre os dois casos (e depois dizem que o Lula é cachaceiro!)!

Democracia que financia dois empresários com dinheiro público para “comprar” uma super-empresa de telecomunicações para depois transferi-la ao maior criminoso financeiro do Brasil (e um dos maiores do mundo), limpando sua cara aqui e nos Estados Unidos, mas que é capaz de prender um “cidadão comum” por crime ambiental ao tirar um pedaço de casca de uma árvore para fazer à mulher doente.

Democracia que faz com que salário mínimo seja apenas uma fração do salário que realmente deveria ser, que não cessa de espoliar aposentados e pensionistas com reposições que sequer cobrem os índices de inflação, mas que dão aos ex-presidentes o direito de receber pensão vitalícia e ainda manter oito funcionários públicos para sua segurança e assessoria.

E isso é só um demonstrativo do nosso cotidiano. Todo dia somos esmagados por esse rolo compressor chamado “mercado”, que parece uma ser uma divindade suprema, mas que no fundo é comandado por meia dúzia de abastados que têm seus fiéis escudeiros em todos os cantos para garantir que tudo continue como está. Inclusive a submissão destes escudeiros! Não é ridículo isso!?

Não por acaso, ouvimos freqüentemente a seguinte frase: “rir é o melhor remédio”. Não duvido, mas quem está receitando e para quem é indicado tal tratamento?

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