Marisa Gonçalves Leite Castilho
Meu avô, caiçara, neto de índios que caçavam com o bodoque seus alimentos, cultivavam a terra para depois dela colherem os frutos (milho, mandioca, batata doce, cará… entre outros), pescavam seu próprio peixe… e eram felizes. Assim também, tenho certeza, era a vida de outros muitos caiçaras. Meu avô foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Ubatuba, tenho muito orgulho disso. Não fez “riqueza”, mas construiu um império chamado moralidade para os seus descendentes, e nele estão inclusos: caráter, dignidade, fidelidade e, creio, não tem melhor riqueza que esta!!! Deixou um pedaço de terra para cada filho, um grande bem material… que plantamos e colhemos… mas um dia, com a chegada do progresso, vimos nossas propriedades serem tombadas: eram máquinas e máquinas derrubando tudo, os pés de laranja, de cacau, de carambola, os chapéus de sol, os pés de goiaba, de abacate, os mamoeiros, os pés de cana… O progresso não nos poupou nada, também tirou-nos a moradia, e nunca nos pagou por isso (construção da BR-101 e SP-55), como também a outros caiçaras, com certeza. Para reerguer novos alicerces precisamos, naquela época, nos desfazer de nossas próprias terras para conseguir sobreviver… e sobrevivemos! De nossa grande família, minha mãe foi a única que conseguiu manter suas terras, que têm escritura lavrada e registrada no Cartório de Registro de Imóveis de Ubatuba, para quem quiser saber e especular. Conto esta história para esclarecer a leigos que insistem em querer se promover através de atitudes mesquinhas e que pelas suas histórias de vida ainda não sabem valorizar e preservar a entidade FAMÍLIA CAIÇARA e por vez DESVINCULÁ-LA DE OPÇÕES RELIGIOSAS. O que falta a essas pessoas e suas entidades particulares individualistas é perceber o mundo e sua realidade, a vida e seu verdadeiro propósito!!! Nossos filhos são e serão nossa verdadeira essência, então a eles falemos sempre a VERDADE E BASTA!!!
Marisa Gonçalves Leite Castilho
marisaleitecastilho@hotmail.com