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Então, quando quiser, envie o seu texto ou o seu protesto para o visão Panorâmica que nós teremos o maior prazer em divulgá-lo.
Hoje publicaremos um texto de Affonso Romano de Sant’Anna que tem tudo a ver com o momento e que nos foi enviado pela leitora Sheila.
Um abraço.
A. Maximus
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Autor: Affonso Romano de Sant’Anna.
Enviado pela leitora: Sheila.
As pessoas estão se perguntando, diante dos escândalos no Senado, "por que o povo não sai às ruas"?
E além da indagação exalam uma auto crítica desalentada: " o povo brasileiro é muito passivo".
A isto seguem-se frases de impotência e ceticismo quanto aos políticos em geral.
A situação torna-se ainda mais incômoda quando essas mesmas pessoas lembram dos " caras pintadas" que, há quase 20 anos, saíram às ruas para depor Collor. Olham para o passado recente e não conseguem entender porque hoje o povo não se rebela, porque a história não se repete.
Os cientistas políticos deveriam/poderiam explicar isto.
Sem ser cientista, parece-me que, para entender esse impasse, temos que convir no seguinte:
1.é uma ilusão pensar que o "povo" espontaneamente sai às ruas para protestar e exigir reformas;
2.os movimentos sociais desta natureza exigem duas coisas complementares: liderança e militantes. Este tipo de atuação tem algo de fanatismo, de evangélico, de messianismo, misturado ao sonho e à utopia;
3.sem liderança e militantes que articulem manifestações, as insatisfações flutuam sem direção. A imprensa pode alardear o que quiser, que o pasmo ficará como uma bolha que se esvai no ar.
Cadê então as lideranças e a militância? Onde estão? Quem são aqueles que deveriam e poderiam ser líderes?
Há que cruamente considerar os seguintes fatos:
1. até pouco tempo, grupos militares, religiosos e facções políticas tradicionalmente fizeram esse trabalho de militância. Hoje, no entanto, no quadro brasileiro, não há nenhum partido ou organização capaz de exercer esse papel. Se não, vejamos:
2. os militares brasileiros, que organizaram as manifestações populares que desembocaram em 1964 estão de quarentena e desgastados politicamente;
3. As organizações religiosas que lutaram contra a tortura e a ditadura hoje não têm nem a penetração nem a liderança que tinham há décadas atrás;
4. Os partidos de esquerda como o PT, PC, PCdo B, PSB, chegaram ao poder e se distanciaram das ruas, tornando-se fisiológicos, seus militantes renderam-se ao lado afrodisíaco do poder; o PSDB e o DEM não têm militância para isto e o PSOL não tem capilaridade para movimentos de rua, como tinha o falecido PT, que está cometendo em
público uma série de harakiris;
5. A OAB que teve um papel importante na luta contra a ditadura através de Raymundo Faoro, não tem voz que se faça ouvir a nível nacional;
6. Os partidos de centro-direita têm um discurso frouxo e tendem para inércia, para os acordos e só aglutinam os subordinados para interesses próprios;
7. Os estudantes que seriam uma reserva disponível não podem ser mobilizados porque a UNE caiu numa armadilha: perdeu a independência, recebe dinheiro do governo, está com a consciência paralisada ou adormecida.
Esta situação é motivo de júbilo para alguns políticos da situação que esfregam descaradamente na cara dos caras pintadas ou não pintadas, o fato de que se "lixam para a opinião pública" e que tal "opinião é volúvel".
Estão tripudiando porque sabem que falta o elo, a argamassa da liderança e militância popular capaz de estremecer o poder.
Militância e liderança que é fruto do trabalho alucinado de alguns "missionários", "revolucionários" que queimam suas vidas atuando 24 horas por dia para que seus sonhos e alucinações aconteçam.
Diante desse quatro, assinale-se que a cultura chamada pós-moderna incentiva cada vez mais a fragmentação da consciência.
Alguém poderia esperançosamente dizer que resta a internet e o twitter, como se o
socorro pudesse vir sozinho do milagre eletrônico. Mas, convenhamos, até mesmo a internet e o twitter só funcionam política e socialmente se indivíduos fisicamente presentes e reconhecíveis assumirem o risco da liderança e romperem a crosta do pasmo e da desilusão.
(*) Estado de Minas/Correio Braziliense-16.8.09
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