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A gente sempre costuma ouvir que, no Brasil, não há racismo. Eu até concordo com essa afirmação em parte. O racismo no Brasil é mais sutil do que a pura e simples aversão ao negro. Nosso racismo é estudado e cuidadoso. Contudo, nem por isso podemos tratar o racismo em nosso país como uma epidemia ou uma causa quase religiosa que mereça vingança e sangue para ser seguida.
Sou branco, descendente de europeus. Mas, e daí? O que as pessoas precisam entender é que raça (negra, branca, vermelha, amarela ou roxa) é algo apreciado e querido pelos estúpidos e ignorantes.
O preconceito contra o diferente (esse sim é forte e real) é o que move o preconceito “racial”. No Brasil esse preconceito é muito mais social do que propriamente em relação a cor da pele das pessoas. E o próprio debate na comissão da Câmara dos Deputados que discutiu ontem (13/05) a criação do Estatuto da Igualdade Racial (só o nome já é uma piada) mostrou isso claramente. Um assessor, no cumprimento de suas funções, foi ridiculamente atacado pelo presidente da comissão (Deputado Carlos Santana – PT-RJ) que aos gritos solicitava que ele se retirasse do local e arrematou “brilhantemente”: “Para minha tristeza é um negro também; fica pra lá”.
O tal Estatuto da Igualdade Racial é uma piada porque ele oficializa o racismo em nosso país e cria a figura do cidadão de segunda classe. Obrigando ao Estado implementar ações que já foram banidas há tempos de nossa vida cotidiana, tais como a obrigatoriedade de informação das características raciais das crianças em documentos, nas escolas, no atendimento de saúde e durante toda a sua vida. Essa prática absurda e completamente equivocada institui uma separação imbecil e preconceituosa ainda maior.
O que os nobres deputados devem fazer é buscar a inclusão oferecendo melhores oportunidades aos pobres. Sejam eles negros, brancos, índios ou asiáticos. Imaginar que o fato de alguém ter a cor da pele neste ou naquele tom, faz dessa pessoa alguém melhor ou pior é tão imbecil para brancos quanto para negros.
Se é para falar de raça; vamos então falar a verdade. Em nosso país os negros são uma raridade. Somos um país de mestiços. Essa, por si só, já é uma prova cabal de que o racismo por aqui é bem diferente do que falam. E é exatamente aí que reside nossa força e nossa riqueza. As pessoas que tem preconceito racial em nosso país são uma minoria ignorante e atrasada. Ninguém que viva aqui pode atestar que sua árvore genealógica é pura. Nem mesmo os índios.
Criar em nosso país a ideia de que o negro era uma vítima do Estado Brasileiro, como inclusive falou na comissão o deputado Vicentinho do PT, é vomitar ignorância histórica. A escravidão era normalmente praticada na África entre as tribos. Os europeus não caçavam escravos. eram os negros africanos que faziam isso e vendiam, por lucro, seus compatriotas aos escravagistas.
O maior comerciante de escravos brasileiro era um negro. Muitos dos grandes caçadores de negros fugidos, que eram famosos no Império, eram negros. A escravidão era um mal cultural comum na época. E, se analisarmos a história humana, desde nossos primórdios.
Se queremos mesmo mergulhar a fundo nas coisas. Basta lembrar que a recende revelação de nosso código genético mostrou que somos todos… africanos. Isso mesmo. Seja você branco, negro, amarelo ou vermelho; somos todos descendentes dos primeiros africanos. Além disso, as características genéticas que nos diferem são tão poucas que a menção de uma diferenciação por raça entre nós é infundada, mentirosa e imbecil. Somos todos seres humanos.
Mas, se é assim, por que esse pessoal teima tanto em promover o racismo disfarçando-o de “orgulho racial”?
Ora, é muito simples: poder.
Ao importarem os ódios, a terminologia e as medidas que os americanos usaram para combater o racismo visceral que há por lá; esse pessoal ganha poder e importância por aqui. Normalmente são parlamentares e políticos medíocres e sem qualquer importância nacional. Pessoas que desejam e ambicionam o poder e a projeção política, também embarcam nessas entidades de “defesa dos negros” que muito mais prejudicam do que ajudam. Nunca os vi em movimentos ou em ações de grande repercussão e de grande relevância para “a raça”.
Ao bater no peito e dizer que é afro-brasileiro, o negro adota a fala importada dos EUA que nada mais é do que uma maneira de reforçar a diferença e a exclusão. SOMOS BRASILEIROS e só. TODOS nós somos iguais e as oportunidades e direitos são para todos. O que precisamos é providenciar que os mais pobres tenham acesso as mesmas oportunidades que os mais abastados. Independentemente de sua cor.
Se continuarmos dando ouvidos a esses “entendidos” e defensores das “causas sociais”; acabaremos como os americanos; um povo que sequer pode se cumprimentar nos elevadores do trabalho ou fazer uma brincadeira com um amigo por medo de processos e retaliações judiciais. Vamos acabar criando o Estatuto da Igualdade dos Obesos (quer mais discriminação do que contra os obesos – classe na qual me incluo). Um negro pode ir ao teatro, ao cinema, pegar um ônibus, etc… um obeso não. E cadê o Estatuto da Banha? Vamos criar também o Estatuto dos Ruivos Com Sardas (afinal nenhum grupo é mais minoria do que esse). Quem sabe, então, o Estatuto dos Dentuços, dos que usam óculos, dos que tem só nove dedos na mão… e por aí vai. Em breve, seremos uma nação de estatutos e de preconceitos acirrados e generalizados.
O absurdo é tão grande que, se um filho dos nobres deputados (que jamais conheceu a pobreza e estudou em excelentes escolas a vida toda) disputar uma vaga com um menino branco pobre e que sempre estudou em escola pública; é ele que terá a preferência porque é “negro”. (ou seria nobre?)
Confesso que fui eleitor de Carlos Santana e do atual ministro da Igualdade Social, Edson Santos (esse desde que começou aqui no RJ). Mas ambos perderam meu voto por demonstrarem uma visão tacanha e preconceituosa sobre essa questão. Esqueceram que o racismo é uma doença de muitas vias e que se insinua sorrateiramente. O preconceito racial é ruim seja qual for. Mesmo do negro contra o branco. E não há justificativa histórica que corrobore isso, por mais mal que tenha sido causado aos escravos no passado. Porque a partir do momento em que você deixa de ser justo e passa a julgar uma pessoa pela cor da pele; você perde qualquer consciência pública e de igualdade.
Na verdade, o que está posto aí é um libelo ao racismo e a exclusão. Começaremos a fomentar o ódio racial em nossas crianças e a percepção de que há negros, brancos e pessoas diferentes com muito mais poder e força. Ao exigir que a raça de uma pessoa seja definida em documentos e determine as oportunidades que ela terá na vida, as pessoas que elaboraram o Estatuto da Igualdade Racial mostraram que nada entendem do assunto. Mas sim que têm muito ódio e preconceito em seus pensamentos.
Minha esposa, que é negra, também vê com maus olhos essa iniciativa ridícula de trazer para nosso seio o que acontece no exterior e, como eu, também é de opinião que isso apenas fomentará o ódio e a fará nascer a verdadeira discriminação racial em nosso país.
E isso é muito triste.
Pense nisso.
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Este artigo foi escrito originalmente para o Blog Visão Panorâmica. A reprodução só é permitida com autorização expressa do autor. Solicite através daqui:arthurius_maximus@visaopanoramica.com