São Paulo – A força da produção cultural de uma metrópole localizada na fronteira entre dois continentes – Europa e Ásia – é o tema do Festival Istambul Agora, que está em cartaz até o dia 22 de abril no Sesc Pompeia, na zona oeste da capital. Durante duas semanas, o festival apresenta os sons tocados pelos DJs turcos, em seus remixes, danças, performances, shows e a arte que vêm de Istambul, a maior cidade da Turquia, com seus mercados a céu aberto, labirintos de ruas estreitas, mesquitas, muçulmanos com lenços na cabeça e religião islâmica.
“A gente não tem essa pretensão de falar da história da Turquia como um todo. É mais uma questão de ter um recorte das expressões artísticas e de criar um diálogo com São Paulo”, explica uma das curadoras do projeto, Talita Miranda, sobre a mostra que reúne também música tradicional e contemporânea, instalações, vídeos e fotografias.
A conexão entre as duas megacidades está, segundo Talita, na posição que elas ocupam em suas regiões – São Paulo, na América do Sul, e Istambul, entre a Europa e a Ásia. “Tem uma relação nesse caos de milhões de pessoas morando em uma cidade, de você ter acesso [a bens e a informações], ainda mais hoje em dia, que tanto a Turquia quanto o Brasil estão nesse auge, economicamente falando”, ressalta a curadora.
Para ela, a diferença está nas transformações enfrentadas pela sociedade turca. “A maior parte da população tem a religião do islamismo e, ao mesmo tempo, um governo que está tentando impor isso [a República] como secular no poder e na política”. Contradição que influencia, de acordo com Talita, o trabalho de uma nova geração de artistas que está emergindo no país.
Além disso, o festival também traz a grande variedade de etnias que vivem e circulam pelas ruas de Istambul. “É a coisa dos ciganos misturada com os balcãs, com os árabes e com o inglês do ocidente”, destaca a curadora.
Nesse contexto de mistura está, por exemplo, a banda Baba Zula, que tem levado a sua música – “turca e meio psicodélica” – para festivais na Europa e na Ásia. A mescla de estilos também é a aposta do Wonderland, “ é um projeto que mistura muita coisa do jazz, com o árabe, oriental e às vezes com dub e eletrônico”, explica Talita.
A tradição, entretanto, está representada na voz de Aynur Dogan, que com um trabalho de caráter mais folclórico, interpreta conhecidas canções em turco e curdo.
Não faltam ainda representações da velha Istambul. O festival traz uma retrospectiva com 50 imagens do fotógrafo Ara Guller. Com um trabalho voltado ao estilo do fotojornalismo, “ele acaba sendo esse braço do olhar voltado para a Istambul antiga”, disse a curadora.