Brasília – “Vivo no século vinte, sigo para o vinte e um ainda preso ao dezenove”, escreveu Affonso Romano de Sant´Anna em um de seus poemas mais conhecidos, “Que país é este?”, de 1980. Hoje, passados 32 anos de sua publicação, o escritor mineiro diz continuar infeliz porque o Brasil ainda não foi capaz de conciliar desenvolvimento econômico e melhoria dos indicadores culturais.
“Sofro todos os dias ao ler os jornais e continuo dizendo a mim mesmo que isso não é um país, mas, sim, uma cicatriz insolvente. Culturalmente, o país mudou muito pouco nestas três décadas. Continua sendo um ajuntamento”, disse à Agência Brasil o escritor.
“Estamos virando a sexta economia mundial e estão todos felizes, principalmente quem está ganhando mais dinheiro. Eu, de certa forma, também estou feliz. Só que não há simetria entre o que está acontecendo na economia com o que acontece na cultura. Além de uma grande quantidade de pessoas ainda não ter acesso ao livro e à arte em geral, há, entre os que têm acesso, uma certa indigência mental vinculada ao consumo”, afirmou Sant’Anna.
O autor, todavia, reconhece como positivo o crescimento do número de eventos literários e sua expansão por todo o país. Casado com a também escritora Marina Colasanti, Sant´Anna diz que o casal chega a receber 20 convites mensais para participar de feiras, festas, salões, encontros e saraus literários. Ele é um dos 150 autores que confirmaram participação na 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que começa amanhã (14), em Brasília.
“Hoje existem centenas de eventos literários e as coisas deixaram de acontecer apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ainda assim, persiste a questão de como transformar o Brasil em um país leitor e como levar o livro para localidades fora dos grandes centros”, diz o escritor, que foi convidados a se apresentar em Joinville (SC), Manaus, Porto Alegre e Bogotá, na Colômbia, após a Bienal de Brasília.
Edição: Carolina Sarres//Matéria alterada às 19h41 para correção do nome do escritor