São Paulo – Um grupo de manifestantes percorreu hoje (7) o bairro de Pinheiros, zona oeste paulistana, para denunciar à comunidade local a atuação do médico-legista Harry Shibata durante a ditadura militar. Cartazes colados em postes diziam que Shibata assinou laudos falsos para encobrir mortes decorrentes de tortura, como o caso do jornalista Vladimir Herzog. Pedindo a punição com gritos de ordem, os manifestantes foram até a casa do legista, onde penduraram faixas e picharam o asfalto e a calçada.
O movimento é inspirado nos atos promovidos na Argentina e no Chile para cobrar punição aos agentes das ditaduras locais. Segundo a estudante de artes plásticas Cândida Guariba, a ação é importante para mostrar que os colaboradores da repressão ainda estão presentes na sociedade. “Vir até a casa dele representa marcar essa memória. Mostrar para as pessoas que ele está vivo, que mora perto delas e está totalmente impune”, ressaltou a jovem cuja avó, Heleny Guariba, é desaparecida política.
Presa por duas vezes à época da ditadura, Ângela Mendes de Almeida acredita que é importante dar nome aos autores dos crimes cometidos durante o regime. “Em geral, o movimento tem se fixado em lembrar os mortos e desaparecidos. Mas nós temos que lembrar também os causadores dessas mortes”, ressaltou a professora aposentada que foi companheira de Luiz Eduardo Merlino, morto sob tortura dentro do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).
Ângela garantiu que as manifestações vão continuar. O objetivo principal, segundo ela, é que os agentes e colaboradores da ditadura sejam responsabilizados. “Nós queremos, além da verdade, a justiça.”
Ex-chefe do necrotério do Instituto Médico-Legal (IML) de São Paulo, Harry Shibata é alvo de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) por ocultação de cadáver. O órgão pede que o legista perca sua aposentadoria e pague indenização pelos danos causados. O dinheiro deverá ser revertido em iniciativas que permitam que as violações aos direitos humanos ocorridas na ditadura não caiam no esquecimento.
Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo