As histórias da cachaça e do município de Paraty estão interligadas em aspectos históricos, culturais, sociais e econômicos. Ambas se confundem de tal maneira, que é praticamente impossível falar de uma sem se referir à outra.
O município de Paraty, localizado no litoral sul do Rio de Janeiro, possui um clima tropical, quente e úmido, com temperaturas anuais que variam da mínima de 12° a máxima de 38° caracterizados por um verão quente e chuvoso com alta umidade relativa do ar, seguido de um inverno mais frio e seco. O relevo acidentado da Serra do Mar apresenta trechos montanhosos com grandes vales e também trechos de planície com extensas e férteis várzeas e se caracteriza pelo mergulho da serra no oceano, encontro do mar com a montanha, proporcionando
uma bela particularidade em sua bacia hidrográfica em que todos os rios nascem de deságuam no próprio município. A soma destes fatores cria em Paraty um micro clima com características únicas que influenciam no comportamento da cana-de-açúcar e também no processo de fermentação do vinho, resultando em um destilado com características particulares.
Existem documentos históricos que comprovam a produção de açúcar e aguardente em Paraty desde o século XVII, O solo de Paraty era considerado ideal para a plantação de cana-de-açúcar e a geografia acidentada com numerosos rios facilitava a construção de rodas d’água, indispensáveis para a moagem, em grande escala, da cana-de-açúcar. Esses elementos transformaram Paraty no maior e melhor centro produtor da bebida durante os períodos do Brasil colonial e Imperial. Em 1805, o Ouvidor Geral José Antonio Valente, nas Providências Administrativas, informava: “Na agoa ardente tem progresso, e sobre tudo na feitoria que lhe assegura de augmento sete mil réis em pipa sobre as demais. Talvez se descubram, examinando o causal da melhoria, se do terreno, das agoas ou das lenhas ela provém. Deve regular a duas mil e seiscentas pipas por ano, e faz este artigo, 151.200$. Esta resulta de produção calculada”. Isto corresponde aproximadamente a 1.232.000 litros!
Atualmente a cachaça de Paraty é caracterizada pela produção artesanal em alambiques com equipamentos modernos, porém mantendo as práticas e a forma de produção da tradicional cachaça de Paraty, que resultam em um destilado especial, encorpado, com um buquê que lembra o bagaço de cana e sabor agradável que promove o ardor característico da cachaça sem agredir o paladar. Os oito alambiques em atividade em Paraty são abertos à visitação e a produção anual gira em torno de 300.000 litros, rotulados em nove marcas.