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Ontem (17/03) tivemos um dia recheado de notícias dantescas na nossa política nacional. Desde a declaração de José Arruda, dando nome aos bois que se serviram de seu esquema de corrupção; a inexplicável liberação de dinheiro público – travestida de captação privada – para que Maria Bethânia montasse um blog (coisa que é possível fazer sem necessidade de abocanhar qualquer verba pública) e o senador Delcídio Amaral (PT) querendo fazer média com o eleitorado no twitter criticando Muammar Kadhafi – logo depois do governo brasileiro abster-se vergonhosamente no Conselho de Segurança da ONU e de ter proclamado o ditador líbio como “Grande Democrata Africano” no ano passado. Ao ser questionado do porque não haver aprovação do Brasil a moção contra o massacre de civis e os motivos da abstenção brasileira na ONU, preferiu “ir dormir” ao debate.
Mas, este artigo, não é sobre corruptos e caras-de-pau. Não é sobre aproveitadores e falsos profetas. Não é sobre as mazelas que vemos em nosso dia a dia e que estamos cansados de ler em qualquer noticiário. Este artigo é sobre heróis.
Sim, sobre heróis. Mesmo correndo o risco de parecer piegas, sempre me impressiona a capacidade do ser humano de se sacrificar pelo bem maior. Por ser um cético de natureza, aprendi desde cedo que o ser humano guarda em si a semente da podridão, do mal, da corrupção e da vilania que nos espreitam do fundo de nossas almas; esperando apenas uma brecha em nosso caráter ou por um instante de fraqueza, para apoderarem-se de nós sem nem ao menos sentirmos suas garras.
Por isso mesmo; atitudes nobres, sem qualquer esperança de recompensa e mesmo sucesso sempre me causam emoção, surpresa e são as únicas capazes de renovar a minha fé na raça humana.
Diante de toda essa tragédia que assola o Japão e ameaça o planeta com mais contaminação radioativa, 180 homens ofereceram-se como voluntários para trabalharem num dos ambientes mais perigosos em que um ser humano pode pisar e, certamente, pagarão com as próprias vidas por isso. O grupo passou a ser nomeado como “OS 50 de FUKUSHIMA” – por trabalharem em turnos de cinquenta homens – Tudo para impedir a explosão dos reatores nucleares da usina de Fukushima e o envenenamento de sua terra natal (e todo o planeta) com doses mortais de radiação.
São pessoas comuns: aposentados, técnicos e gente de várias qualificações que não precisariam estar lá. Eles bebem água congelada e comem rações militares, provavelmente envenenadas com a radiação intensa que emana dos núcleos dos reatores da usina. Em um local onde um ser humano, mesmo com roupas protetores, só pode permanecer alguns minutos; eles batalham há dias para impedir o pior. Encarando a morte como uma realidade final e inevitável. Numa verdadeira missão Kamikaze. A diferença é que, desta vez, a palavra que significa “Vento Divino” pode ser pronunciada em seu verdadeiro significado. Pois o sacrifício deles, com toda certeza, os aproxima da divindade.
Como lendários guerreiros samurais; eles mergulharam para a morte certa, imbuídos da certeza de que nada mais restava a fazer a fim de proteger aqueles a quem amavam e a milhões (ou bilhões) de desconhecidos completamente alheios ao seu sacrifício.
Ao ler as mensagens postadas no Twitter pelas filhas de três desses homens, não me foi possível deter a emoção e nem as lágrimas. Pois, ali estavam colocados sentimentos de pessoas comuns alçadas pelo destino a condição de verdadeiros heróis. Não pela glória, por dinheiro ou mesmo pela expectativa de alguma fama – já que as chances de sobreviverem são quase nulas – mas pelo simples fato de compreenderem a necessidade do sacrifício e a importância dele para a sobrevivência de outros – sejam eles conhecidos ou não. Numa dessas mensagens uma menina dizia: “Nunca vi minha mãe chorar tanto. Os trabalhadores estão lutando, se sacrificando para proteger todos. Por favor papai, volte vivo pra casa”, Outra menina relata: “Meu pai ainda está trabalhando na usina. Eles estão praticamente sem comida. As condições de trabalho são duras. Ele diz que aceita seu destino como uma pena de morte”. A terceira, filha de um funcionário, prestes a se aposentar, diz: “Ele vai se aposentar em seis meses e, mesmo assim, foi trabalhar lá. Meus olhos até se enchem de lágrimas. Em casa, ele não parece o tipo de pessoa que conseguiria trabalhar em algo tão grande, mas, hoje, sinto muito orgulho. Eu rezo para que ele volte pra casa com segurança”. A esposa de um deles relatou uma troca de e-mails que demonstra a dura realidade da situação: “Meu marido também está na usina, ele trabalha sabendo do risco de radiação” – em um e-mail o marido lhe disse – “Por favor, siga vivendo bem. Não poderei voltar pra casa tão cedo”. (veja a reportagem completa aqui).
Aos 50 de Fukushima e aos seus familiares, minha solidariedade, meu agradecimento, minhas orações e a certeza de que a solidariedade, o dever e a honra ainda são sentimentos latentes nas almas de alguns seres abnegados.
BANZAI!
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JAPÃO, DESASTRE NUCLEAR E OS 50 DE FUKUSHIMA.
