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Ontem (15/10) foi dia do mestre. Pessoas que destinam suas vidas a ensinar e a formar o futuro de qualquer nação. Pessoas que se dedicam, com amor e com um verdadeiro sentimento de doação, a passar o conhecimento de toda uma civilização para as gerações futuras.
Mas, há mesmo o que comemorar?
Claro que, por aqui em nosso país, não. Os baixos salários, as péssimas condições de trabalho, a falta dos materiais mais básicos para dar apoio às aulas e a carga horária excessiva; contribuem para um embrutecimento de uma relação que sempre foi divina e recheada de encantamento.
Ainda me lembro da minha professora do primário, a quem carinhosamente chamava de “Tia”, e que também foi meu primeiro amor platônico (nada mais clichê). Mas, os professores e professoras, sempre exerceram um fascínio positivo sobre seus alunos. O domínio das “artes ocultas” e dos “saberes secretos” que desvendavam o universo para nossas jovens mentes; cobriam-nos de alegria, emoção e contentamento.
A bronca, o elogio, o carinho dos mestres sempre era algo bem-vindo e querido por todos. Mesmo os mais bagunceiros e recalcitrantes (eu era um desses). Lembro de um professor de história que sem sequer escrever uma linha no quadro-negro; discursava e maravilhava a audiência atenta dos alunos e tinha cada fato histórico na ponta da língua, com uma vivacidade e realidade inacreditáveis. Sua “leve queda” pelas alunas mais sensuais que teimavam em deslizar pelos corredores da escola em suas minissaias, muito antes de chocar ou de causar problemas; assumia ares pitorescos e pueris. Até mesmo porque ele sempre mantinha o respeito e a devida distância.
Hoje, infelizmente, vemos nossos mestres expostos a animais raivosos e a bestas-feras incontroláveis. No lugar do carinho; o ódio irracional do animal predador. No lugar do respeito; o escárnio do louco que arrasa a terra que lhe provém o sustento. No lugar da emoção da descoberta; o obscurantismo da mediocridade e da alienação.
Hoje, algumas crianças vão para as escolas como se fossem para campos de extermínio e para zonas de combate. Bandidos mirins são forçosamente confinados no meio de crianças que desejam apenas erguerem-se por sobre a lama e a miséria que as cercam e libertarem-se da pobreza extrema pelo conhecimento. Mestres omissos ou cansados relegam sua função sagrada e abandonam aqueles a quem poderiam salvar, por já não se importarem mais ou não verem saídas a serem buscadas e nem soluções a serem apresentadas.
Uma legislação errada e que não foi feita para a realidade em que vivemos; transformando jovens psicopatas em reis déspotas que tudo podem e que ninguém pode deter. A convivência e a conivência com o crime, o descaso de algumas famílias e de todas as autoridades, o uso político de uma situação que deveria ser encarada com frieza e prioridade total. Todos esses fatores contribuem para tornar muitos de nossos mestres apenas agentes a serviço do óbvio e de seus próprios interesses.
Comemorar o que? Só se for o fim do sonho, do respeito, da emoção e da mágica de ensinar e aprender.
Pense nisso.
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a
OS PROFESSORES, A COMEMORAÇÃO E O ABANDONO.
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