O último signo do zodíaco mistura uma pitada de cada um dos onze anteriores – a infantilidade de áries, a sensualidade de touro, a suscetibilidade de câncer, a maleabilidade de gêmeos, a magnanimidade do leão, a acuidade de virgem, o mimetismo de libra, a sagacidade do escorpião, a benevolência de sagitário, uma certa reserva própria de capricórnio e uma tendência a desligar típica de aquário. Com tantos atributos contraditórios somados numa só pessoa, o peixes só poderia ser o que é: um tímido.
Nem um replicante conseguiria exprimir essa coisa toda, e o peixes desiste de se fazer entender antes mesmo de começar, refugiando-se no mais seguro mundo da fantasia, onde toda (aparente) incongruência é bem-vinda. Um peixes introspectivo, portanto, é praticamente um pleonasmo. Ele prefere comunicar-se com aquele olhar vago e enternecedor, seguido de gestos doces e delicados, completados por um único comentário extremamente sensível – mas, quem diria, surpreendentemente na mosca. Peixes, como escorpião, é um signo que saca tudo de cara – uma espécie de detector de mentiras ambulante, o que provavelmente contribui para acentuar seu ar melancólico. Ao contrário do escorpião, porém, que saca e corta a bola imediatamente, os piscianos vacilam na hora de reagir. Um peixes pode intuir que o camarada ao lado é um perfeito patife, mas nada, em seu sistema imunológico, o leva a proteger-se adequadamente. Talvez porque, ao contrário de escorpião, peixes enxergue sob a superfície de todo patife um ser tão desprotegido quanto ele e o restante da humanidade. Ou porque, no fundo, não se abale muito com as patifarias alheias.
Peixes é o símbolo do cristianismo, e sua palavra de ordem é transcender. Não deixa de ser uma boa política: já que as barbaridades que sua intuição constantemente pesca por aí não tem muito jeito nem conserto, ele prefere fechar os olhos e passar batido. A única ressalva é que esta política de resistência passiva às vezes só funciona entre os acólitos do sr.Ghandi, e não com o taxista que o rouba na corrida, o sócio que o rouba no escritório e o melhor amigo que lhe roubou a mulher. Como a natureza poética de peixes, contudo, lhe permite sublimar a vontade, estas bobagens do dia-a-dia não o atingem muito. Ele pode se safar da condição de vítima pintando, compondo ou pondo em versos toda esta chateação. Com seu talento natural, terá uma carreira arrasadora. No ramo da fantasia, peixes será sempre the best.
DOENÇAS :
Sensível a doenças nos pés e no sitema linfático. Tem pouca resistência às doenças contagiosas, e a baixa taxa de glóbulos vermelhos e o cansaço generalizado podem vir a refletir no pisciano. A indiferença aos acontecimentos, a falta de coragem e de esperança, aborrecimentos com ninharias e desorganização são prolemas que podem aparecer.
TERAPIAS:
Devido à sua extrema sensibilidade, o pisciano tende a ouvir demais aos outros, o que é péssimo, pois vão estar sempre diagnosticando torto seus males, e recomendando remédios mais fatais que a doença. Nada, portanto, de freqüentar consultórios: os psi-palpites só vão torná-lo mais confuso e endividado. O maior problema nervoso de peixes, ao contrário do que se diz, não é o escapismo – essa é uma das virtudes que lhe permite, por exemplo, conviver mais pacificamente que seus 11 companheiros com uma inflação de 30% ao mês.
A típica neurose pisciana é a síndrome da esponja: uma extraordinária capacidade para se embebedar com o astral dos outros, captando e introjentando o astral do colega recém-demitido, o astral do filho reprovado nos exames, o astral da conta corrente no negativo e, muitas vezes, o astral da sogra. É muito natural, portanto, que ele se sinta exausto ao fim do dia, com tanto baixo astral por perto. Para recuperar a saúde mental, a terapia certa é aquela que o afaste das energias alheias, e o reaproxime de si mesmo: a T.V.P, ou Terapia de Vidas Passadas, onde o pisciano, após uma regressão de 30 minutos, foi um conde russo na época de Catarina, a Grande, ou um lorde favoritíssimo da rainha Elizabeth.
A T.V.P não tem contra-indicações, porque até hoje não se tem notícia de alguém que tenha regredido à condição de camponês maltrapilho ou trabalhador as minas de carvão inglesas no século passado. A meditação transcendental também é uma boa: depois de repetir “Ohm” duas dezenas de vezes, de olhos semicerrados e respirando totalmente com a barriga, o pisciano estará pronto para enfrentar o stress da atual encarnação.
Textos de Marília Pacheco Fiorillo e Marylou Simonsen, publicados no livro Use e Abuse do seu Signo, editado pela LP&M.