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O que nos revela o dramático espancamento de um jovem dentro de sua sala de aula, numa escola pública da cidade de Silva Jardim no interior do Estado do Rio de Janeiro?
Muito.
Mais que a óbvia falência da educação brasileira que apresenta constantes índices de “melhoria”; quando, a dura realidade, pode ser medida facilmente ao sentarmos para conversar com um adolescente ou com uma criança que estudem em escolas públicas regulares.
Muito mais que o maquiavélico e pernicioso plano para formar gerações de sub alfabetizados e de verdadeiros zumbis intelectuais; as escolas brasileiras são hoje um centro de violência, tráfico de drogas, abandono e desesperança.
O próprio governo admite seu fracasso ao determinar a formação de cotas para estudantes oriundos de escolas públicas. Sabedouro de que estes jamais alcançarão um bom desempenho nos vestibulares, salvo raríssimas exceções, adiantam-se e criam as cotas como forma de “premiar” o esforço do estudante e a sua placidez e cordeirice diante de anos de enganação e descaso.
O descaso mostrado por profissionais que deveriam zelar pela boa educação e pelo bem estar dos pequenos cidadãos. O descaso mostrado por um ambiente e uma organização que deveriam ser construídos para protegê-los enquanto amadurecessem para uma vida plena e produtiva; mas que ultrapassam a barreira da negligência criminosa com suas omissões.
A “moderna educação” nada mais é do que um ritual interminável de permissividade e de absoluto abandono intelectual, moral e ético dos alunos. Imersos num mundo em que os maus sempre vencem e são reverenciados pelas mais altas autoridades da nação. Valores como generosidade, honestidade, ética, amor ao próximo e hombridade soam aos ouvidos de uma juventude entregue ao poder nefasto do tráfico e do crime, como conceitos absolutamente ultrapassados e sem a menor valia. Um luxo reservado apenas a personagens inocentes e desprovidos de força: Os Otários.
Esquecem-se nossas autoridades e os responsáveis pela educação de nossas crianças, que o ser humano é, antes de qualquer outra coisa, um animal. E que, como todos os animais, em seu âmago habitam instintos e necessidades que são incompatíveis com a vida em sociedade. Cabe a família, ou na falta ou omissão dela, ao Estado a doutrinação e o treinamento para que esses “filhotes” sejam apresentados à vida em sociedade e aprendam a comportarem-se nela.
A criação do E.C.A. – Estatuto da Criança e do Adolescente – criou uma figura “sui generis” em nosso país que é única no mundo: O “Pode Tudo”.
Estranhamente, ao “Pode Tudo”, é dado o direito de vida e morte sobre qualquer cidadão ou qualquer outro ente social sem que seja exercido sobre ele qualquer tipo de controle. Ao “Pode Tudo”, é dado o direito de decidir se deseja ou não freqüentar os abrigos e instituições do Estado ou permanecer abandonado vagando pelas ruas e drogando-se. Ao “Pode Tudo”, cabe decidir se estudará e aprenderá uma profissão, ou sobreviverá como um animal pelas ruas; tomando o que quiser e reproduzindo-se livremente para perpetuar o ciclo de miséria e violência interminável. Intocáveis, abandonados por suas famílias e negligenciados por mestres e professores que os temem e odeiam; os “Pode Tudo” vagam pelo sistema educacional, pelas ruas e por toda parte do tecido social como bestas-feras sedentas de sangue. Selvagens e conscientes de sua intocabilidade fazem o que querem e agem livremente, roubando, furtando, violentando, espancando, ferindo e matando impunemente por toda parte.
Mas, o “Tudo Pode”, é fruto de um plano bem aplicado e cuidadosamente desenvolvido por setores de nossa sociedade que acreditam haver a necessidade de uma grande e constante massa de manobra eternamente dependente do socorro do Estado. Apta a executar as funções mais subalternas e desqualificadas que a elite pensante já não deseja executar ou, simplesmente servir como fiel da balança, para que setores dominantes exerçam sua força e seu poder sobre as demais camadas sociais.
Assim, o “Tudo Pode” de hoje, se transformará no adulto conformista e conformado. Dotado da passividade bovina do brasileiro que atura tudo e não desiste nunca. O “Tudo Pode”, acordará pela manhã bem cedo; irá até a birosca da favela onde vive atolado na lama; beberá algumas doses de cachaça e seguirá contente para seu subemprego ou seu pesado trabalho porcamente remunerado. Ao chegar em casa, beberá mais algumas doses daquela cachaça barata (para amortecer o corpo) espancará sua mulher e seu filho e dormirá exausto e “feliz” até que se inicie o próximo ciclo interminável de misérias e desolação.
O “Tudo Pode”, se acostumará a ser pisado, maltratado ter seus direitos roubados e começará a entender que deve proceder da mesma forma se quiser sobreviver. Aqueles mesmos instintos que o mantiveram vivo na infância, aflorarão mais uma vez para resgatá-lo do marasmo e da loucura psicopata de uma escravidão sem grilhões. Ensinará a sua prole que para sobreviver é preciso ser forte. É preciso tomar o que puder e “ser esperto”. Adotará o jargão salvador: “Se os grandes fazem…”
O “Tudo Pode”, morrerá de rir com candidatos escatológicos, votará nulo ou em branco e baterá no peito dizendo orgulhosamente: “Eu não tenho nada com nada disso”. Quando muito; votará nas mesmas caras e partidos que o espoliam há anos, mas sustentaram sua vida e continuam bancando sua prole através das “bolsas-isso-ou-aquilo”. Se sentirá feliz tendo alguém que decida o seu futuro e o de seus filhos. Mesmo que imagine que estejam se baseando em objetivos particulares e escusos. Sorrirá alegremente com seus poucos dentes ao ser chamado de pacífico e ordeiro pelos algozes que transformaram sua vida num inferno. Enquanto morre em hospitais públicos abarrotados e é tratado como gado durante toda a sua vida.
Para os “Pode Tudo”, a escola é boa e o prêmio pela passividade tacanha é uma vida sem objetivos e sem sentido prático. Como animais, vivem para se reproduzir, comer, beber e divertir-se. Mesmo que para isso, seus semelhantes tenham que sofrer e morrer. Afinal, são os mais fortes. São os “durões”. São os intocáveis do passado e, hoje, passam a seus filhos, o bastão da intocabilidade e da permissividade letárgica de nossas autoridades.
Afinal, ensinar; evoluir; questionar; pensar? Para que?
Eu posso tudo.
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