Criado em 1.988 pelo governo estadual, vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente, das Cidades, do Planejamento, das Ciências e Tecnologia (Semac) e pelo Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), o Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) realiza a recepção, triagem e destinação de animais silvestres apreendidos durante operações de fiscalização efetuadas pela PMA, Ibama e Corpo de Bombeiros.
Atualmente o centro é visto como referência positiva na preservação de espécies da fauna brasileira que se encontram sob risco de extinção. Desde sua criação, já recebeu mais de 22 mil animais oriundos do tráfico, de doações da população, de casos de atropelamentos e acidentes nas estradas.
Desse total, 68% são aves, 20% mamíferos e 12% répteis. As espécies que mais aparecem por lá são: o papagaio-verdadeiro, curió, canário-da-terra, tucano, arara-canindé, pássaro-preto, macaco-prego, gambá-de-orelha-branca, quati, sagüi-de-tufo-preto, veado-catingueiro, jabuti, jibóia, cágado, caiçaca, sucuri e falsa-coral.
O biólogo Vinicius Andrade Lopes, fiscal ambiental e coordenador do Cras, explica que muitas pessoas ganham esses animais de amigos ou parentes e não sabem como tratá-los. “Elas então percebem que um animal silvestre não é um animal de estimação e decidem entrar em contato conosco, solicitando nossa ajuda. Há também inúmeros casos de aparições em residências, devido ao desmatamento”, conta.
O coordenador alerta que a compra de animais silvestres sem nota fiscal, autorização e garantia de procedência é crime ambiental. “A pessoa é multada em R$ 500 e se o animal estiver em risco de extinção, são mais R$ 2.000. O infrator pode pegar de um a quatro anos de prisão ou pena alternativa. Mas não é só por causa disso; um animal silvestre pode transmitir doenças. Então quem quiser ter um animal diferente em casa, procure criadouros autorizados pelo Ibama e o adquira de forma legalizada”, aconselha.
O Cras está localizado no Parque Estadual do Prosa e conta com 24 recintos para aves, mamíferos e répteis; cozinha acoplada a um biotério; área para filhotes e animais em observação; recinto pra treinamento de vôo de aves; cercado e piquetes para mamíferos de médio porte e sede administrativa. Conta também com uma equipe composta por três médicos veterinários, três biólogos, um zootecnista, além de sete pessoas de apoio e limpeza.
Pesquisa e cuidados especiais
Durante a recepção, os especialistas buscam coletar o maior número de informações que possam determinar, posteriormente, o destino do animal: espécie, origem, tempo de cativeiro, alimentação, contato com outros animais silvestres ou domésticos, estado de saúde, histórico, idade, sexo e marcação. O indivíduo recebe um número de cadastro e suas informações são armazenadas num banco de dados específico, em funcionamento desde 1994.
No ato da entrega, é preenchido um termo de depósito e guarda de animal doado ou apreendido, oficializando a entrada do animal no centro. Após um exame clínico, o animal é encaminhado à quarentena ou ao centro de atendimento veterinário para cuidados especiais. Em seguida, o animal é alojado em recintos compatíveis com as características biológicas.
Durante a permanência no Cras, os animais são acompanhados individualmente quanto aos aspectos sanitários, nutricionais e comportamentais. Cada indivíduo é analisado isoladamente, já que diferenças de origem, tempo de cativeiro, estado de mansidão, estado físico e idade são fatores que podem gerar problemas. Há casos de filhotes que necessitam de cuidados especiais, incluindo alimentação, temperatura e umidade controlada.
Os primatas, por exemplo, são alojados em recintos coletivos, onde são observadas a estrutura do grupo, formação de hierarquia e dominâncias temporárias. Neste período, são alimentados com base em dieta específica, de acordo com os hábitos alimentares, incluindo o fornecimento de presas vivas aos carnívoros, proporcionando o exercício da caça instintiva.
Cardápio saudável
No cardápio dos animais, frutas frescas, ração, sementes, legumes, verduras e carne. “O mais pesado do nosso orçamento é a carne. São 300 a 400 quilos de carne por mês, dependendo da situação. Atualmente estamos com sete onças pardas aqui e elas dão conta dessa quase meia tonelada de carne”, brinca Vinicius.
Os alimentos são preparados cuidadosamente e servidos diariamente, toda manhã e fim de tarde. São fornecidos também pequenos animais, como camundongos vivos, que são servidos às onças, serpentes, lobinhos e macacos, que complementam a nutrição e ajudam no treinamento à caça dos animais em reabilitação.
Soltura
A maioria dos animais que chegam ao Cras não ficam lá para sempre. A prioridade é a devolução para a natureza. Em alguns casos são enviados a zoológicos e criadores de outros estados. Apesar de muitos pesquisadores serem contrários à soltura dos animais, a legislação brasileira diz que a prioridade é o retorno dos animais à natureza. “As solturas são feitas com o maior rigor técnico e estamos provando, através de intensas pesquisas, que a soltura dá certo”, explica o coordenador do centro. As solturas se dão em fazendas no pantanal ou em áreas de proteção ambiental. São 150 pontos cadastrados, sendo que 20 desses lugares são efetivamente destinados a alguns animais.
As destinações seguem princípios básicos pré-estabelecidos com os consultores de manejo e gerenciamento de vida selvagem: espécies raras devem atender a projetos de conservação, realizados por instituições ou pesquisadores idôneos, previamente identificados e devidamente autorizados pelo Ibama e os comitês das espécies; espécimes comuns, recém capturadas na natureza, são preferencialmente soltas em habitat natural após pequeno período de tempo no Cras; já os animais comuns oriundos de cativeiros são encaminhados a instituições ou utilizados em casos de repovoamentos, de acordo com as condições do animal. Exemplo disso é um grupo de 15 macacos-prego que passaram por um minucioso estudo comportamental e serão soltos no Pantanal.
Desde 1992, muitas solturas são realizadas em hotéis-fazenda no Pantanal, onde o repovoamento revela grande sucesso na sobrevivência dos indivíduos. Essas empresas atendem todas as normas e exigências pré-estabelecidas pelo Cras, de olho no exigente público, em boa parte turistas estrangeiros ávidos pela fauna pantaneira.
Após a liberação dos animais na natureza, eles são monitorados diariamente ao longo de cinco dias. Em seguida, técnicos ambientais fazem visitas mensais às fazendas, realizando um monitoramento periódico e colhendo informações.
Educação ambiental
Como a maior parte dos animais que chegam ao centro são vitimas do tráfico e da criação em cativeiros clandestinos, o Cras realiza um programa de visitação aberta ao público, principalmente estudantes, visando a conscientização da população em relação aos crimes ambientais e educação ambiental. As visitas são monitoradas por guias treinados, que expõem aos visitantes as conseqüências negativas do tráfico e dos cativeiros clandestinos, além do trabalho de reabilitação realizado.
Em abril de 2007, um grupo de estudantes secundaristas norte-americanos visitou o Cras. Os estudantes, com idade média de 16 anos, se mostraram encantados com a biodiversidade de Mato Grosso do Sul. “Fiquei mais impressionada com os macacos. Eles parecem tanto com os seres humanos. Nos Estados Unidos só costumamos ver esses animais em zoológicos, mas não se compara ao trabalho de reabilitação desenvolvido aqui”, disse a estudante Kelly Parker.
O professor da disciplina de Ciências e Meio Ambiente da Hudson High School, Peter Vacchina, explica que esta é a segunda vez que ele traz um grupo de estudantes ao Cras: “Nossa vinda a Mato Grosso do Sul tem objetivo científico, já que os alunos não devem ficar aprendendo somente com os livros. As aulas práticas são fundamentais para que eles conheçam a realidade do meio ambiente no mundo, pois a preservação do planeta estará nas mãos desta geração em poucos anos”, relata o professor.
Visite o CRAS
As visitações são realizadas às terças-feiras, quintas-feiras e sábados, das 8 às 12 horas e das 13 às 17 horas, por grupos de até 15 pessoas. Os visitantes são acompanhados por um guia capacitado, que fala sobre noções de educação ambiental, as conseqüências negativas do tráfico de animais silvestres, assim como o trabalho desenvolvido no Cras.
É necessário agendar o passeio com antecedência pelo telefone (67) 3326-1370. Recomenda-se o uso de calças compridas e tênis fechado. É cobrada uma taxa de R$ 8,00 por pessoa, sendo que estudantes pagam metade do preço. O valor é revertido para a preservação e manutenção da área, de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), já que o centro encontra-se dentro do Parque Estadual do Prosa. Escolas públicas são isentas da taxa.
Fonte = MS Notícias