A VISÃO POLÍTICA DA BLOGOSFERA – CÁSSIO.

ESN: 16675-080201-838850-87

 

Entrevista Panorâmica

 

A partir de hoje daremos início a publicação de uma série de entrevistas realizadas com diversos blogueiros das mais variadas correntes políticas e de ideologias diversas.

É claro que o título do projeto – “A Visão Política da Blogosfera” – não pode ser tomado ao pé da letra. Ele é muito mais um trocadilho com o nome do Blog do que o objetivo de afirmar que as entrevistas aqui mostradas representarão a real visão política da blogosfera. Ao contrário dos Blogueiros Progressistas, não há essa pretensão aqui. Para que assim fosse, a quantidade de entrevistas deveria ser enorme; afinal de contas, sabemos que existem milhões de blogs e muitos mais são criados a cada dia. No entanto, a meta das entrevistas é debater questões políticas e assuntos ligados a blogosfera. Desejamos mostrar que, mesmo sem saber ou gostar, você é obrigado por situações do seu dia a dia, a tomar uma posição política sobre um ou outro assunto.

A primeira entrevista publicada foi realizada com o Cássio – Editor do Blog do Cássio – um excelente blog político que já andou incomodando políticos na cidade de Nova Londrina – Paraná – o seu principal foco de atuação.

O Cássio é um dos blogueiros que inspiraram o surgimento do Visão Panorâmica há alguns anos e, apesar de ter opiniões contrárias as minhas em alguns aspectos da política nacional, é uma figura a ser respeitada por qualquer um que pensa num debate político de qualidade e trabalha em prol de uma nação mais forte, mais justa e mais democrática.

Leiam a entrevista e não deixem de comentar:

 

 

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Visão Panorâmica – Você é um blogueiro experiente na seara política. Do seu início até o momento atual, você vislumbrou algum amadurecimento na atuação da blogosfera política ou o caminho ainda é longo?

Cássio – Realmente, possuo um Blog que tenta falar e opinar um pouco de política e comportamento desde abril de 2006. Nestes anos todos percebo um grande aumento no número de Blogs que se dedicam também ao tema. Claro que neste meio há muita porcaria e também alguns oportunistas que parecem estar a serviço deste ou daquele político, o que não deixa de ser legítimo. Agora, vejo principalmente que a blogosfera vem ganhando cada dia mais importância e ressonância, tanto por parte de leitores como de outros veículos de comunicação “maiores” que têm voltado sua atenção para a atuação dos blogueiros, seja para repercutir com eles, seja para concorrer com esta popularidade. A blogosfera tem se tornado cada dia mais um importante espaço de informação e opinião “alternativa”, ou seja, fora do padrão das grandes agências de informação e opinião. Além disso, podemos perceber que há uma forte união entre os blogueiros, toca de textos, comentários, e defesa incessante da liberdade de expressão e opinião. Se o caminho ainda é longo? Embora a expansão seja contínua, o caminho ainda é longo nesta “guerra de posições” em busca da consolidação de uma “contra-hegemonia” da informação, no sentido gramsciano do termo. Acho que a classe dos blogueiros deveria pensar seriamente na viabilização de um grande portal de notícias e opiniões para tentar fazer frente à “hegemonia” da Folha/Estadão/UOL/G1/etc…

Visão Panorâmica – Você sentiu na pele a ingerência do Estado sobre a sua liberdade de expressão. Mesmo tendo escrito apenas a verdade, foi ameaçado e teve seu direito primordial cassado. Depois de viver essa situação, qual a sua impressão sobre as tentativas de institucionalização do controle da mídia pelo Estado e as crescentes intervenções do Judiciário sobre a blogosfera?

Cássio – Bom, primeiro preciso deixar claro que, o processo que sofri da administração municipal aqui da minha cidade, encaro como sendo uma tentativa/ameaça de calar. Tentaram me assustar/pressionar afim de que eu parasse de expor a minha opinião (direito constitucional de todo cidadão brasileiro), bem como de expor de forma simples o que era publicado, e nunca lindo, no Diário Oficial. Não culpo a administração pública, tento entender os seus motivos, uma vez que aqui na cidade, pelo menos que eu me lembra, até então não havia isso e minha atuação pode ter sido entendida como “politiqueira”. Mas enfim, acredito que hoje esta mesma administração já pensa diferente e até tenha se arrependido do processo.

Sobre a questão da tentativa de institucionalização por parte do Estado no controle da mídia, penso que se trata de um instigante e polêmico debate. Não quero aqui esgotar o assunto, mas vamos lá. É inegável a influência dos veículos de comunicação de massa na vida da população. São os verdadeiros formadores de opinião. São capazes de eleger e derrubar presidentes, criar ídolos e depois levá-los ao ostracismo, inventar e mudar padrões de consumo e de comportamento, etc. Sabemos que nenhum veículo de comunicação é imparcial, o problema é que eles tentam vestir a “roupa da imparcialidade”. Por exemplo, fiz uma pesquisa na graduação em História que visava analisar quatro anos da Revista Veja e o seu discurso em relação ao MST. Gostemos ou não do MST, o fato é que não há qualquer matéria que trouxesse de forma imparcial a discussão sobre a reforma agrária, as ocupações de terra, o latifúndio improdutivo e os assentamentos que dão certo. Todas as matérias eram de cunho pejorativo. Ao leitor, fica a impressão de que a Veja fala sempre a verdade, quando de fato a revista está é reproduzindo um discurso de oposição ao movimento, ou seja, não há imparcialidade na análise, mas a revista tenta passar a impressão de que haja.

Recentemente, a polêmica versa sobre a tentativa por parte do Governo Lula, após uma série de palestras, discussões, debates e com participação aberta a todos os seguimentos da sociedade, de criar um organismo que visasse analisar a produção televisiva e emitir pareceres sobre a sua qualidade. Claro que o conceito de qualidade é muito subjetivo e esta medida poderia dar ensejo a uma futura volta da censura. No entanto, no quesito televisão gostaria de propor um outro raciocínio. Para que uma companhia aérea passe a operar no país, é necessária uma autorização do Estado e existe um órgão estatal que fiscaliza/organiza a atuação destas companhias, a ANAC; Para que uma companhia de transporte terrestre passe a operar no país, é necessária uma autorização por parte do Estado e existe um órgão estatal que fiscaliza/organiza esta atuação, que é a ANTT; Para que uma companhia de petróleo passe a operar no país, é necessária uma autorização por parte do Estado e existe um órgão estatal que fiscaliza/organiza esta atuação, que é a ANP; Para que uma companhia telefônica passe a operar no país, é necessária uma autorização por parte do Estado e existe um órgão estatal que fiscaliza/organiza esta atuação, que é a ANATEL. Agora, para que um canal de TV aberto seja colocado no ar, também se faz necessária autorização por parte do Estado e o canal deve cumprir uma série de requisitos constitucionais em sua programação, sem como é proibido o monopólio, etc, no entanto, não existe nenhum organismo estatal para fiscalizar/organizar este seguimento. Por quê? Quem tem medo desta fiscalização? Os principais críticos desta proposta do governo é justamente a Rede Globo, que inclusive, como parte de sua propaganda contra este controle, distorce os recentes fatos ocorridos em outros países da América Latina e tenta colocar tudo dentro do “mesmo saco”.

Como disse, o debate é instigante e gera muita polêmica. Também penso que o direito à liberdade de expressão e opinião deva ser inquestionável, agora, não devemos confundir liberdade com libertinagem. Tudo na vida tem limites e regras a serem cumpridas. Claro que, o principal “censor” deve ser o controle remoto do telespectador. Mas devemos debater e muito este tema. Infelizmente, a grande mídia foge do debate.

Quanto ao judiciário, acho que ele está fazendo a sua parte quando acionado por aqueles que se sentem prejudicados ou ofendidos. A blogosfera tem sofrido grandes derrotas porque ainda não é grande, os blogueiros são a parte fraca na relação processual e não podem pagar “os melhores advogados”. Não nos esqueçamos que a justiça não necessariamente é justa, basta vermos os diários escândalos de corrupção também neste poder. Os crimes de calúnia, injúria e difamação devem ser punidos e nós blogueiros devemos estar atentos ao que falamos e como falamos. Com disse, nossa liberdade de expressão deve ter limites. Agora, o fato de um blogueiro dizer que não concorda com tal política pública, por exemplo, e expõe a sua opinião e argumentos não pode ser considerado crime e o judiciário deve estar atento a isso. Geralmente, os processos contra blogueiros não passam de tentativas desesperadas por parte dos “donos do poder” em nos assustar e calar diante do poder que eles possuem. Como diz um amigo já muitas vezes processado por políticos: “_ Não passarão!” e aqui a união da blogosfera deve ser enorme, para que possamos denunciar estas atitudes autoritárias.

Como alerta a nós blogueiros que nos achamos na maioria das vezes “contra a corrente” da grande mídia, precisamos estar atentos para não cairmos nos mesmos erros que criticamos desta grande mídia partidarizada (PIG – Partido da Imprensa Golpista, como costuma dizer o grande Paulo Henrique Amorin). Penso que a independência deve ser a principal característica dos blogueiros.

 

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Visão Panorâmica – Você sente que interfere e influencia na vida de seus leitores? Por que?

Cássio – Com toda certeza. Além das formas que nós blogueiros temos para saber a quantidade de visitantes à nossa página por dia e os comentários postados, o contato diário aqui na cidade é muito animador. Fazemos a cobertura semanal das reuniões da Câmara Municipal e quando o relatório demora um pouco mais que o normal para ser postado, há a cobrança. Várias foram às vezes que eu estava andando na rua e as pessoas me paravam para comentar do Blog, dizer que lêem e dar força para continuarmos. Isso é muito animador. Quando não, pessoas que não conheço, mas que me conhecem como o “Cássio do Blog”. Também nossos colaboradores, o Luciano, o Mateus e o Ivo sentem isso no dia-a-dia.

Visão Panorâmica – Em sua opinião, como anda a política nacional e quais as suas impressões sobre a campanha eleitoral e as eleições que se aproximam?

Cássio – Bom, se você fala da polarização PT e PSDB, como diziam no tempo do Brasil Império: “não há nada mais parecido com um saquarema, do que um luzia no poder”. No entanto, há algumas diferenças pontuais e que penso devem ser levadas em consideração pelo eleitorado. Por exemplo, o PT tenta fazer uma política de fortalecimento do Estado, já o PSDB é privatizante. Isso é muito claro.

Agora, há uma série de ponderações a serem feitas: infelizmente, o Brasil hoje não possuem uma alternativa de esquerda. PSOL, PSTU, PCO e PCB, o que poderíamos considerar de mais radicais, estão fragmentados e não possuem inserção nas massas. Parece que estão falando para dentro dos seus próprios quadros; O PT, em nome de uma futura governabilidade, acabou se aliando aos que há de pior no PMDB; O DEMOcratas, os verdadeiros neo-liberais brasileiros, estão diminuindo a cada pleito; O PSDB não admite a hipótese de ficar mais quatro anos longe do Palácio do Planalto; O PMDB continua governista a todo custo e sem um projeto de nação, etc.

Sinceramente, gostaria de votar no Plínio de Arruda Sampaio. Concordo plenamente com tudo o que ele diz e admiro a sua coragem em dizer o que pensa, sem rodeios e “doa a quem doer”. No entanto, o PT é hoje o que eu chamaria de “a esquerda possível” no país. Claro que o PT deixou de ser radical há muito tempo, se é que um dia o foi. No trato da coisa pública o partido entendeu que não basta a simples tomada da coisa pública através das eleições democráticas. Por trás do Estado, há toda “sociedade civil” organizada e “hegemônica”, que ainda o influencia. Vamos ler Gramsci. Além disso, o trato com o parlamento e os interesses muitas vezes escusos, talvez não tenham permitido que as mudanças tenham sido mais agudas.

Esta campanha eleitoral está muito chata. Dilma tenta não se comprometer e faz de tudo para colar na popularidade de Lula; Serra não consegue fazer críticas contundentes à Lula com medo de sua popularidade e só fala de saúde. Parece até um hipocondríaco; Marina e seu ecocapitalismo evangélico não empolgam. Plínio é a grande atração, fala o que sempre pensou sobre os mais variados assuntos. Os pequenos parecem querer apenas continuar pequenos. Pelas últimas pesquisas, só mesmo a Rede Globo pode tirar a vitória da candidata petista.

Visão Panorâmica – A Lei da Ficha Limpa foi um enorme avanço na legislação brasileira. Mas, por si só, ela não resolve o problema grave da corrupção e da eleição constante de picaretas. O eleitor é que tem o papel definitivo na coerção dos oportunistas de plantão. Se for tão teoricamente fácil saber quem é corrupto ou não – afinal os escândalos são estampados constantemente em toda mídia e essas informações encontram-se ao alcance de um clique – porque o eleitorado brasileiro continua elegendo e reelegendo os mesmo corruptos notórios de sempre? (Cito, especificamente, os casos de Joaquim Roriz, Paulo Maluf e Anthony Garotinho; todos com condenações judiciais amplamente conhecidas e mais do que referendados como políticos envolvidos em maracutaias e denúncias mil).

Cássio – Olha, estudos sobre o comportamento eleitoral não costumam ter resultados muito convincentes, mas vamos lá. Primeiro; não devemos esquecer que vivemos em um país onde o patrimonialismo e o coronélismo ainda são muito fortes; Segundo tem uma população de “analfabetos funcionais”, ou seja, podem até ler e ouvir muitas notícias, mas que talvez não sejam tão bem entendidas e absorvidas; Terceiro; pessoas como nós, que tivemos mais acesso a estudo e informação não podem querer que as massas de “analfabetos funcionais” que não tiveram o mesmo acesso pensem como nós; Quarto, boa parte do eleitorado não entende o que um parlamentar, por exemplo, faz. Estão muito distantes da sua realidade diária certos debates. O trabalhador mais simples quer mesmo é saber se a sua vida está mudando, se ele come mais, se sobra um dinheirinho no final do mês e etc. Ele vota com o estômago? Que seja, afinal, é a sua sobrevivência imediata que está em jogo. Nós aqui da classe média, do conforto de nosso sofá, não devemos julgar esta atitude dos “miseráveis” que precisam a cada dia lutar pela sua sobrevivência.

Claro que o projeto Ficha-Limpa é um grande avanço, mas temos visto notícias diárias de políticos “Ficha-Suja” que conseguem recursos e liminares através de seus excelentes e caros advogados. Como disse antes, a justiça nem sempre é justa.

Visão Panorâmica – Você leu o manifesto do Movimento Blogueiros Progressistas? Se leu; o que achou do movimento? Não acha contraditório defender a liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, defender um governo que a combate? Como mobilizar uma parte mais plural da blogosfera e abordar com seriedade e isenção esse problema? (Tendo em vista que o encontro foi patrocinado e realizado por entidades financiadas com verbas públicas e, tanto ela quanto os blogueiros envolvidos, representam apenas uma corrente política nacional).

Cássio – Então, li sim a carta do movimento e fiquei sabendo do evento financiado pelo Estado. Acho que como ficou claro na outra pergunta, não acho que o atual governo tente combater a liberdade de expressão. Agora, como mobilizar a blogosfera para este debate? Também gostaria de saber, pois eu seria um destes incentivadores. Isenção em uma discussão? Difícil falar em isenção sobre qualquer tema. Como seres sociais temos nossas opiniões, etc. Como você mesmo mencionou, este movimento de “blogueiros progressistas” representa mesmo uma corrente política nacional, o que não vejo problemas. Pelo menos são claros em seus posicionamentos, ao contrário, por exemplo, da Folha, Estadão ou Veja tentam parecer cordeiros, quando muitas vezes atuam como lobos.

 

Controle da Imprensa

Visão Panorâmica – Você diz que o atual governo não deseja controlar a imprensa e limitar a liberdade de expressão. Mas, desde o início do governo Lula, o presidente, seus ministros e muitos políticos da base aliada têm se manifestado verbalmente – e com veemência – contra a imprensa. Lula tentou expulsar um jornalista que escreveu sobre suas bebedeiras, no episódio do Mensalão, diversos membros do PT atribuíram o caso a “intrigas” da imprensa. O próprio Sarney, em seu discurso de defesa no senado disse, com todas as letras, que a imprensa é “inimiga da democracia”. Como devemos, então, avaliar essas posições tão aparentemente claras e favoráveis ao controle?

Cássio – A imprensa tem que entender que, ao mesmo tempo em que ela pode criticar, também pode ser criticada. Se a imprensa argumenta pela liberdade de expressão, então porque a recíproca não pode ser verdadeira? Qual o problema do governo criticar a imprensa? Isso não é liberdade de expressão? A imprensa não está acima do bem e do mal. Sempre fez e sempre fará parte do jogo político, de interesses escusos, etc. Quanto a Sarney, sabemos que é o verdadeiro inimigo da democracia.

Visão Panorâmica – Quando me referi à isenção, pretendi dizer que um movimento assim – que pretendeu tornar-se representativo de uma classe – não deveria ser patrocinado por correntes políticas de nenhuma orientação ideológica e que os blogueiros deveriam ser congregados com pluralidade e visando a reunião de uma ampla gama de visões do mundo. O que você acha?

Cássio – Concordo plenamente contigo. Por isso a blogosfera é legal. Nenhum blogueiro pode ser forçado a participar de qualquer movimento que seja. A pluralidade é a principal característica da Internet. Se perdermos isso, perdemos o sentido da rede.

Visão Panorâmica – Como você percebe a candidatura de celebridades e a quase certa eleição delas? Em especial aquelas celebridades que sabemos jamais terem sido ligadas a nenhuma ação de cidadania e que sequer têm projeto, planos ou sabem como atuar no cargo a que se propõem ocupar. Algumas até usam isso como plataforma de campanha.

Cássio – É, nestas eleições o caso do Tiririca é emblemático e preocupante. Pelo menos ele me parece sincero ao dizer que não sabe o que um deputado faz, enquanto outros candidatos tentam enganar o eleitor. É direito de todo cidadão ser candidato e cabe ao eleitor a decisão do voto. Agora, claro que é deprimente ver uma pessoa ter que apelar para a sua fama para conseguir se eleita. Ao mesmo tempo, não sei até que ponto a eleição destas pessoas é quase certa, temos que esperar até outubro.

Quero aqui apresentar um outro problema, os dos sobrenomes políticos. Aqui no Paraná, há uma série de candidatos que são filhos ou netos de políticos consagrados. Jovens que parecem mais querer surfar na onda política de seus parentes já consagrados. Não seria o mesmo problema dos candidatos celebridades?

 

 

repórter

Visão Panorâmica – O “Estado é laico”. Esse preceito constitucional não deveria servir para impedir a candidatura de pessoas ligadas diretamente a Igreja “A” ou “B” e barrar projetos que visem, por exemplo, o ensino religioso e da absurda tese criacionista nas escolas públicas?

Cássio – Adoro este assunto. Primeiro que infelizmente o Estado brasileiro é laico apenas no papel, porque na prática está longe disso. Símbolos religiosos em prédios públicos são um absurdo. Ensino Religioso em escola pública, que na prática serve de propaganda do cristianismo, idem. A tese criacionista então, nem se fala. Infelizmente a Igreja ainda tem forte influência nos rumos políticos da nação. Nem parece que somos frutos de um processo histórico que separou o Estado da Igreja.

Exemplo recente deste absurdo tivemos no debate promovido pelas TVs Católicas com os presidenciáveis, que tiveram de responder perguntas sobre aborto, casamento homossexual e até símbolos religiosos.

A bancada cristã na Câmara, composta tanto de evangélicos quanto de católicos, tem feito forte esforço para que não avance o debate sobre questões que eles consideram contrárias aos preceitos bíblicos. Abordo de união civil de pessoas do mesmo sexo são exemplos clássicos. Mas sou otimista quanto ao avanço destas questões. A Igreja que se julga guardiã da moral e dos bons costumes, tem perdido este status. Os escândalos de pedofilia, padres com filhos, evangélicos milionários, etc estão aí diariamente.

A Igreja deve entender que, antes do abordo ser uma questão religiosa, é uma questão de saúde pública e também social-econômica. A união civil entre pessoas do mesmo sexo é um fato, que deve ser regulado através de lei civil por parte do Estado. Nenhum homossexual, pelo menos até onde eu saiba, quer entrar na Igreja de véu e grinalda para se casar, mas sim, querem que seus direitos civis de regulamentação de bens seja respeitado. A Igreja condenar tais atos é um direito seu. A Igreja manda dentro da Igreja e não no Estado. São coisas diferentes.

Quando vejo estes reacionários se apegando em palavras supostamente ditas por Jesus á dois mil anos atrás, ou seja, dentro de um contexto histórico específico e de uma sociedade específica, fico tentando imaginar o que este mesmo Jesus diria hoje. Não sou um grande conhecedor dos textos bíblicos, mas vamos lá. Na época de Jesus, eram os Fariseus as pessoas que se julgavam os defensores da fé. Quando os Fariseus diziam determinada coisa, Jesus costumava dizer algo como “_ Você disse isso. Eu, porém vos digo…”. Quantos “porém” Jesus diria hoje em dia para estes “neo-Fariseus”? Aliás, “neo-Fariseus” que se esquecem que Jesus perdoou uma prostituta, andava com cobradores de impostos a serviço do Império Romano, e era seguido por pescadores, a classe mais simples da época. Pior que isso, esquecem do único mandamento de Jesus, o amor ao próximo. Estes “neo-Fariseus” pregam o ódio e o preconceito.

Visão Panorâmica – O que você pensa a respeito do voto facultativo? Por que?

Cássio – Haja questões polêmicas nesta entrevista. Estou adorando isso. Então, tenho muito receio quanto a isso. Não sei até que ponto o voto facultativo serviria para impedir que “maus políticos” fossem eleitos. Sabem que qualquer feriado ou domingo é o momento ideal para as famílias irem para a praia, rios, futebol ou shoppings. Dia de eleição facultativa também seria. Os defensores do voto facultativo argumentam que apenas os “eleitores conscientes” é que iriam votar e por isso, haveria uma certa moralização da política. Tenho minhas dúvidas. Quem são estes “eleitores conscientes”? Será que não está implícito neste discurso a tentativa por parte da “elite pensante” em acabar com o sufrágio universal, uma vez que a democracia do voto está cada vez mais gerando governos de base popular? Por enquanto, sou contra o voto facultativo. Nossa sociedade ainda não atingiu o grau de conscientização necessário para isso.

Visão Panorâmica – Deixe um recado aos leitores.

Cássio – Ufa! Adorei este momento. Primeiro, meus parabéns pela iniciativa. Fiquei empolgado e pensando em fazer algo parecido aqui na minha cidade. Seu Blog é, com toda certeza, um dos melhores que conheço e esta série de entrevistas comprova a sua qualidade e preocupação com o futuro da blogosfera e os rumos políticos do nosso Brasil. A Internet se torna a cada dia mais popular e os Blogs tem ocupado um respeitável espaço de informação e formação de opinião. Longa vida a blogosfera e a liberdade de expressão!

 

 

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