Solei a manhã azul. No céu nem um urubu sequer. Só um avião, portando silêncios, sobrevoava. Gostei de seguir o voo da aeronave até não poder mais ver. Na contramão, um passarinho carregou o meu olhar para um abacateiro grávido. Espetáculo lindo, os frutos petitiquinhos sendo escondidos e protegidos pelas folhas. O passarinho bateu asas e se foi no azul. Deixou ali o meu olhar grudado naquele mistério da vida. Brisava nas folhas, brisava nos frutos, brisava em mim. Notei que repentinamente comecei a descascar. Teria chegado a hora de trocar de cascas? O fato é que o fenômeno estava ocorrendo comigo às 8h32. Claro que tomei um susto, mas não tive como conter tal acontecimento. Experimentei não me aborrecer. Pendurei num solitário varal os meus desejos mais sinceros de renovação e fé na vida. Depois disso continuei solando a manhã.
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