Moço, você pensa que é fácil escrever silêncios? Não é não, posso garantir. Silêncios não aceitam distração. Silêncios precisam de atenção. Silêncios gostam de namorar. Namoram desde sempre. Eles estão nas pausas, nas árvores, nos bichos, nas coisas, nas gentes e até na canção que você ouve agora. Nunca saem de férias. Silêncios são instruídos nas nuvens, nos ventos, nas asas de cada momento. É bom que se diga: depois do silêncio há mais silêncio e depois mais e mais. Os silêncios estão na bolsa de valores, nos estádios de futebol, nos concertos de rock, no mercadão municipal, na sala de espera, na cadeira do dentista, nas pedaladas solitárias, nos parques apinhados de gente. Há silêncio no olhar do cobrador, há silêncio nos olhos do astro. Há silêncio na fala do tagarela. Há silêncio em todos os sonhos. Há silêncios em todos os aeroportos. Há silêncio, moço, pra dar e vender e muitos a escrever, mas pra escrevê-los é preciso treino, muito treino. Silêncios são como peixes ensaboados escorregando por entre os nossos dedos.
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